Lagoas do Ipiranga e adjacências
Nos anos de 1950 existiam muitas lagoas no bairro do Ipiranga e região, que foram as lagoas: Louça; Parentes; Tibum; Três Torres; Matarazzo; Boca da Onça e Cogeral me perdoem se esqueci de citar algumas.
A lagoa conhecida por “Boca da onça” surgiu em razão de que a Cerâmica Sacomã extraia a preciosa argila para fabricação de produtos cerâmicos, aliás a argila era transportada por tração animal (carroças), como o meu tio Brás trabalhava nesta firma exercendo a profissão de motorista todos os dias eu estava lá na portaria, isto porque ele me levava para a escola pilotando uma perua Dodge, daí ouvi um comentário do porteiro que disse a seguinte frase: “alguns animais já poderiam pedir aposentadoria por tempo de serviço”, confesso que na época não entendi nada sobre essa questão.
Dito isso, vou falar especificamente de um fato que aconteceu na lagoa Cogeral. Antes, porém, vou contar a razão de ter ido nesta lagoa.
No dia 20 de outubro de 1958, a minha avó Julia A. P. Tangerino, seu corpo iria e foi sepultado no Cemitério São Pedro (V. Alpina). O cortejo fúnebre saiu rumo ao cemitério acima citado, digo que chorei muito pela perda. Fiquei sem rumo e não sabia o que fazer para amenizar a dor, até que resolvi andar pelas ruas empoeiradas do bairro. Eis que encontro pelo caminho vários garotos da mesma idade, e um deles falou bem alto pra todos escutarem, hei rapaziada lá na lagoa Cogeral está dando peixe a beça.
Confesso que nunca tive vocação para pescaria, mas lá vou eu junto com a garotada rumo a tal lagoa. Seguimos pela Rua Albino de Moraes, Avenida Pres. Wilson, passamos pela Santos à Jundiaí, estação ferroviária Vemag (hoje Tamanduateí) e logo avistamos a lagoa, que tinha em sua volta vários campos de futebol varzeanos, de chão batido.
Neste dia aconteceu um fenômeno da natureza, isto é, os peixes subiam a tona e todos que ali estavam portavam um cepo (pedaço-de-pau) que com ele davam cacetadas, ou se preferirem, davam porretadas, pra mim algo inédito, isto porque não era a maneira tradicional para pescar peixes. Outros pescadores enfiavam as mãos nas locas (loca, esconderijo de peixe).
A profundidade da lagoa beirava mais ou menos 1:50, enfim eu e os demais garotos adentramos na lagoa e vamos nós também dar porretadas para pescar peixes, ou cacetear. Ouvíamos pá – pá – pá – pá, de todo lado e muita gargalhadas, aquilo se tornou uma grande farra.
Depois de um certo tempo, não sei precisar quanto, mas conseguimos encher uma lata de 20 litros até a tampa, lata essa que conseguimos por ali mesmo.
Durante o tempo que durou essa pescaria não lembrava da minha avó, ajudou-me a esquecer por uns instantes.
O tempo passou já era tardinha, daí regressamos para casa, antes repartimos um pouco de peixe para cada um, alguns dos garotos não quiseram os peixes, diziam que apenas foram lá pela farra, nos despedimos, chego na casa do meu avô “Zeca Bem” vejo ele na porta de um quartinho, local que tinha um fogão de lenha, com fisionomia muito triste, e ao me ver, fez uma pergunta, queria saber porque eu não acompanhei o funeral. Eu disse. Vô Zeca Bem, eu não fui em razão de gostar muito dela e não tinha coragem de ver ela sendo enterrada no cemitério.
Em seguida disse-me, é muito triste perder um ente querido, mas assim é a nossa vida, um dia vamos nós.
A tia Deolinda pegou a lata que continha os peixes colocou numa bacia de alumínio com água, foi tirando as escamas, lavando, depois de lavado temperou tudo e fez uma fritada, que serviu de mistura no jantar. Acreditem se quiser...