Curso Normal do Ginásio Paraisense
Luiz Carlos Pais
Luiz Carlos Pais
As aulas do Curso Normal do Ginásio Paraisense de São Sebastião do Paraíso, MG, foram inauguradas no início do ano letivo de 1910. O curso ginasial estava no seu quarto ano de funcionamento, sob a direção do pároco italiano Dr. Aristóteles Aristodemus Benatti, quando a realidade da instrução pública local indicou a necessidade urgente de criação de um curso específico para a formação de professores primários. Havia uma demanda pela instrução secundária e também havia uma carência de professores primários. Problema esse que saltava aos olhos de todos, como aliás acontecia em todo o país. Grande parte das crianças das famílias pobres não tinha acesso à instrução primária e muito menos ao ensino secundário.
A intenção do projeto liderado pelo padre Benatti não era apenas atender a demanda dos jovens das famílias mais abastadas. Havia um quadro social desolador na oferta de instrução pública para as crianças pobres. Uma situação nada auspiciosa para o arrojado município cafeeiro do sudoeste mineiro. Confirma esse entendimento um recenseamento realizado pelo professor Gedor Silveira, com a constatação de que 42% das crianças em idade escolar do município viviam nas “profundas trevas do analfabetismo”. Palavras com que o ilustre educador terminou seu relatório, publicado em um jornal do Rio de Janeiro de ampla circulação nacional.
A princípio, o estabelecimento era particular, mas com a transferência do vigário para a cidade de Caracol (Andradas), no Sul de Minas, o poder municipal adquiriu o Ginásio, em 1913. Essa aquisição contou com o empenho do ilustre advogado e escritor José de Souza Soares, então vice-presidente da Câmara Municipal, que estava no exercício da presidência, devido ao licenciamento do titular, José Pimenta de Páuda. Desse modo, o curso passou a ser do poder público municipal. Porém, não se tratava de um curso gratuito, pois a Câmara matinha, como era usual na época, um contrato de arrendamento com um diretor que recebia subvenção dos cofres públicos e tinha o direito de cobrar mensalidades para manter as aulas.
Assim que as aulas iniciaram, o curso não estava ainda autorizado pelo governo. Mas essa situação foi logo alterada no ano seguinte, quando o então deputado estadual coronel José Luiz Campos do Amaral Junior, tabelião em Sebastião do Paraíso, com apoio de outros líderes políticos locais, conseguiu respaldo na capital para obter do direito de equiparação ao Curso Normal Modelo de Belo Horizonte. Assim, o diploma concedido na instituição paraisense passou a ter valor em todo o Estado de Minas Gerais, em decorrência do decreto assinado em 5 de outubro de 1911, pelo então governador mineiro Bueno Brandão.
O primeiro corpo docente do curso normal era composto pelos mestres Gedor Silveira, Luiza Aurora de Aguiar Silveira (Dona Luizinha), pelo promotor público José Bento de Assis, pelo juiz de direito Luiz Sanches de Lemos, Antonio Villela de Castro, Ciciliano de Castro e pelo Maestro Marchiori, professor de música. Nessa fase inicial, deve ser destacada a importantíssima atuação do professor Gedor Silveira e da professora Luiza Aurora, pois os dois tinham sólida formação obtida em tradicionais escolas normais e ampla experiência no magistério. Assim, a participação do casal foi de grande relevância na consolidação do curso de formação de professores, pois ambos tinham domínio nas matérias pedagógicas referentes à instrução primária.
Depois de funcionar 12 anos como instituição municipal, o curso foi então transferido, em 1925, para a Congregação das Irmãs Doroteias, que instalaram na cidade o Colégio Paula Frassinetti. Teve início então um novo período da história de formação de professores primários em São Sebastião do Paraíso. Esta crônica foi escrita para prestar uma homenagem a todos os mestres que protagonizaram os primeiros dias da história de formação de professores na querida terra natal.