ONDE ESTÃO OS LEITORES E OS APRECIADORES DA ARTE E CULTURA?
 
Nesse fim de semana de carnaval, experimentei uma das sensações mais desprazerosas: o descaso! Participei de um evento, o qual acreditava que seria maravilhoso. Não só pelas pessoas envolvidas na organização, as quais, apesar de não conhecer pessoalmente, pareciam ter know-how na área.
 
A proposta era muito bacana: reunir, em uma casa, arte, cultura, literatura, moda, decoração, música e gastronomia. O local, bairro do Sumaré, em São Paulo.
 
O bairro, por si só, já passa uma boa impressão, não só pela localização, mas pelos moradores e frequentadores da região. Tudo parecia conspirar para o sucesso.  
 
Preparei-me toda animada para o tal evento, acreditando que os visitantes se interessariam por minhas obras literárias. E lá fui eu... Aluguei máquina da Cielo (acreditando em muitas vendas), carreguei uma mala com livros, folhetos e outros trecos afins.
 
Chegando ao local, a primeira surpresa: tudo parecia meio desorganizado. Ninguém sabia ao certo qual local de cada expositor. Tinha pó por todos os lados da casa. A verdade é que ela foi alugada caindo aos pedaços e não deu tempo de reformar tudo para o evento. Mas estava apresentável. A parte externa, da piscina, muito bacana. O problema era internamente.
 
Bom, arrumei meu cantinho e pensei: “Neura minha. Às 2h (hora da abertura), esse local vai ferver de gente”. Relaxei e fui conversar com os outros expositores, apresentei-me, eles falaram do trabalho deles e tudo parecia caminhar para o tal sucesso!
 
Porém... Não foi bem isso que aconteceu.
 
Muitas pessoas foram ao evento. A maioria amigos dos organizadores, que sequer se interessavam pelos expositores. É, eu não fui a única ignorada. Cheguei a colocar um papel com a seguinte frase, na frente dos meus livros: FOLHEIA-ME. Para ver se animava a galera, ao menos, a folhear e conhecer o meu trabalho.
 
Passaram por lá casais com filhos, casais sem filhos, jovens, idosos, muita gente. NINGUÉM VENDEU NADA.
 
O único produto que vendeu muito foi cerveja. E pasmem, R$ 6,00 cada latinha. O lanche tinha de R$ 20,00/35,00, vendendo horrores.
 
Eu estava perto do local que vendia cerveja e ficava olhando aquela galera consumindo cerveja feito água. Compravam, saíam e iam bater papo. Às vezes alguém aparecia, dava uma olhada e saía.
 
Eu, como estava alí, desconsolada com tal situação, resolvi marcar uma pessoa e contar quantas cervejas compraria. Total: 12 cervejas. Veja, apenas uma pessoa. Então, vamos à matemática: 12x6 = R$ 72,00.
 
Mais caro que os meus livros e todos os outros produtos que estavam lá. Pelo visto, o valor e o desejo pela cerveja ultrapassa qualquer desejo de consumo pela expressão artística e cultural.
 
Lá pelas 17h, fui conversar com alguns expositores e eles não tinham vendido nada. O evento aconteceria durante o feriado de carnaval. Os expositores resolveram não voltar nos dias seguintes e nem eu...
 
Senti-me na Oktoberfest. A primeira roubada do ano. E espero que seja a última! Uma pena, tal situação. Os produtos belíssimos e com preços ótimos. Mas nada foi páreo para a tal cerveja e outros comes e bebes!
 
Mas, analisando friamente a situação, percebo que faltou, por parte dos organizadores, a correta divulgação, um cuidado melhor com os expositores  —  preocupar-se em conhecer o trabalho de cada um  —, até para apresentar para as pessoas que chegavam ao local. A impressão que tive é que estavam ocorrendo dois eventos distintos: a “Oktoberfest do Sumaré” e a parte esquecida, que reunia diversos profissionais com seus trabalhos artísticos.
 
Voltei para casa com minha malinha cheia de livros e o coração partido. Afinal, onde estão as pessoas que apreciam literatura, arte e cultura?
 
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Marcela Re Ribeiro
Enviado por Marcela Re Ribeiro em 07/02/2016
Reeditado em 03/03/2020
Código do texto: T5536559
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