Assim ou...nem tanto 30
O Acontecimento
Todos os lugares estavam ocupados quando cheguei e o que aconteceria, pelo ar cansado das pessoas e pela falta de sentido no arrastar inglório do tempo de espera, sabia a passado. Vi-te mergulhada nos folhos de um vestido fantástico, entre a fantasia de fada e a de uma bailarina de flamenco. Tu salvavas o mau gosto do conjunto. Nenhum espaço havia para te poder abordar e todos os acessos estavam entupidos por aqueles que lutavam para estar mais perto embora ninguém soubesse, exactamente, de quê. Todos tinham o ar de saber o que aconteceria e, por isso, esperavam. Quando abriu a cortina, apareceu um tipo alto, velho e mole, que disse um poema que ninguém ouviu. Como se o microfone estivesse desligado. Sobraram palavras isoladas que se perdiam na brevidade do som. Depois, o homem, voltava a virar a boca para o silêncio e gesticulava maravilhas surdas. Aplaudiram-no muito, para que o barulho das palmas ocupasse o absurdo de um poema dito para não ser escutado. Falaram depois de um livro, de poetas ausentes, dos que, vivos embora, se percebiam secos à espera de uma água que os libertasse da liofilização, de um milagre que os trouxesse para um tempo de verdade onde aconteceria algo verdadeiramente espantoso. Seguiram-se a dona gorda, o sapo, a acrobata, o engolidor de chamas, o número de cães amestrados. Só depois, rompendo caminho entre os que te rodeavam, surgiste tu. Dançavas como podias mas certa com a invenção de que fazias parte. Queria muito retirar-te dali, despir-te e amar-te longe daquele inútil mar de sargaços mas não foi possível. Na fantasia, a verdade é intolerável!