Pescaria

Meu irmão mais novo me ligou esta semana, ele mora em São Paulo e eu em Presidente Prudente, região oeste do Estado de São Paulo, a distância é de seiscentos quilômetros, ele veio de motocicleta pela Castelo Branco inteira e depois Raposo Tavares, fez esta viagem em sete horas.

Ele veio para pescar, nossa região é cortada por vários rios, a pesca está fechada para peixes da nossa bacia hidrográfica, mas liberada para espécies exóticas, principalmente Tucunaré e Corvina que existem pelo peixamento que a CESP fez na região.

Começamos a lembrar de quando a gente era criança e íamos pescar com o nosso Pai no Rio Aguapeí, mais conhecido como Rio Feio. Morávamos em Adamantina e de lá íamos até a Lagoa Seca para chegar ao Rio Feio. Nosso Pai alugava um bote de madeira e acoplava um motor de popa "Britsh Anzani" de rabada longa, um motor inglês de quatro HP super econômico.

Eu e meu irmão éramos bem pequenos, ele com oito anos e eu com dez. Meu Pai ajeitava o motor no barco, ajudávamos a carregar as bugigangas, varas, sacolas de comida, lonas e outras coisas para acampar na beira do Rio. Ele soltava o bote e remava para a corrente do rio e enquanto isso ía dando umas fieiradas no motor, eu e meu irmão dávamos risada da situação e ele ficava doido com a gente, não podíamos nem respirar pois o motor não pegava nem a pau, cada vez ele gritava mais com a gente e dizia que nunca mais ía levar a gente para pescar, era uma gritaria danada e nós dando risada e ele gritando até que o motor dava sinal de que ía pegar. Ele ajeitava a fieira e dizia "agora vai" e o motor finalmente pegava.

Nosso Pai ajustava a aceleração e direcionava o bote para a corrente e começava a subir o rio, o estres acabava por ali, ele já ria e pegava a garrafa de oncinha, aquelas com rolha, dava uma talagada e nos passava a garrafa. Ele dizia, dá uma molhada na boca, eu e meu irmão ficávamos com aquele gostinho de cachaça na boca até chegar no lageado e acampar.

A pescaria era animada, ficávamos no barranco pescando piaus com milho verde e minhocas, daí a pouco o estres começava de novo, pois quando a gente dava uma fisgada mais enérgica e perdia o peixe, o anzol enroscava nas árvores aí virava uma pesca de sabiá, nosso Pai ficava louco com aquilo e dizia que nunca mais ía nos levar para pescar. O "scripti" das nossas pescarias eram sempre esses, por muito anos.

Ele pedia para a gente cortar uns matos na beirada do rio para criar uma espécie de colchão para a gente passar a noite. Colocava o encerado de lona em cima desse mato e eu e meu irmão dormíamos embolados e cobertos com o próprio encerado, o frio da noite não nos deixava dormir, a gente miava a noite inteira e nosso Pai tinha ali um motivo para rir do nosso sofrimento e resgatar muito da raiva que tínhamos feito ele passar. Pernilongo, frio, choro e no dia seguinte aquela energia para acabar com a paciência dele de novo.

Passamos dias maravilhosos de nossa infância nessas pescarias com o nosso Pai, Tios, avós, aprontando na beira dos nossos rios e pescando peixes e passarinhos.