Crianças grandes
Pela enésima vez deparei no Face, com um “vídeo impressionante” que, se eu o quisesse assistir teria que clicar em “Compartilhar”. Como sempre, não assisti; odeio isso! Como vou compartilhar algo que ainda desconheço? Mesmo depois de conhecer, posso ser livre pra decidir, por favor?
Outra bosta que desprezo, já disse isso, são as “curtidas casadas”, tipo, quem não tem preconceito curte, seja de raça, de alguma necessidade especial, sei lá. A coisa é posta sempre nesses termos: Sou obrigado a “curtir”, ou, sou preconceituoso, escolho o Lula, o capeta, ou similar. Sempre faço a “má” escolha.
Será que o mercantilismo atual é de tal monta que até mera observância de uma postagem qualquer precisa ser “vendida”? A indigência mental, a falência moral de nossos dias é algo assustador.
Par mim, um apreço espontâneo vale mais que um milhão deles, de plástico, fruto de coação. Não uso as redes sociais para “causar”, “viralizar”, “mitar”, antes, para expressar livremente o que penso.
Meu compromisso primeiro com a consciência, e a coragem de me expor mesmo em assuntos polêmicos tende a gerar algumas antipatias até, críticas severas, com as quais, convivo sem problema, desde que, haja respeito. Às vezes, a maioria delas, críticas, ou, aplausos, não mostram o que sou, tampouco, o que são meus textos, antes, o que são as pessoas que os apreciam.
Ontem postei uma análise sobre a “mão chifrada”, gesto que tantos usam sem se preocupar com o significado, defendendo via citações bíblicas e trechos de músicas de roqueiros, que é um gesto usual entre adeptos do satanismo, assumido por eles, inclusive.
Fiz uma ressalva: “Nem todo que faz o gesto é satanista; pode ser desinformado. Embora, lembrei, o Papa Francisco não pode ser desinformado num assunto desses, dado que fez em público o referido gesto.
Pois bem, uma comentarista, doeu-se: “Então sou satanista, pois, adoro rock e amo o Papa.” Não leu o que escrevi, não na íntegra, escolheu o que queria ler, e usou seus gostos pessoais, invés de argumentos lógicos ou factuais, para contrapor.
Ora, falta as pessoas comuns, capacidade de raciocínio lógico, outra, sobram suscetibilidades, melindres, de modo que, eventual crítica aos seus gostos equacionam com rejeição pessoal. Adultos físicos, crianças psicológicas.
Se, por um lado é nocivo ter robôs programados para “curtir”, por outro, é deprimente constatar tantos cérebros de ervilha, onde as paixões sufocam a razão.
Nossos melhores pensamentos ainda estão em trânsito, entre o aprendizado e o saber; todos podemos ser criticados, contestados, mas, que o seja de modo lícito, lógico, coerente; que haja honestidade intelectual.
Quem padece pujante necessidade de aceitação, malgrado a idade que tenha, ainda não saiu do ovo. Repetir incessantemente o lugar comum, o medíocre, reduz nossos cérebros a meros condutores, como um cano por onde passa a água.
Não discordemos por discordar, simplesmente; tampouco, concordemos para agradar, porque é “assim que se faz”; pensemos antes de nos posicionar, não dói.
“A mente não é um vaso para ser cheio; é um fogo a ser aceso.” Plutarco.