O pranto dos prantos

Meu pranto é o voz rouca que ecoa no infinito das relações humanas. Conquistamos o espaço, mas ainda desconhecemos nós mesmo. Gauguin refúgiou-se em sua própria genialidade, o interior encontrou seu complemento exterior sob o sol tropical. Total simbiose. Talvez, os girassóis de Van Gogh não fossem amarelos ou nem mesmo girassóis, somente reflexos do sangue pintado de tinta de suas veias.

Se Dom Sebastião não se desencontrasse da sua trilha de migalhas, dispersadas por ventos turcos. Se as canoas Incas atracassem na Espanha. Cabeça que não tem lógica, corpo sem espírito, vida sem lúmpen.

Como se a história fosse escrita à caneta. Brincar com os fatos sem que sejam realmente fatos. Aqui, tudo posso transformar. Alexandre haveria espalhado Alexandrias por todos os cantos da orbe; Aquiles e Heitor sentados, como dois burgueses, tomando o famoso chá Inglês; Dom Quixote encontraria o ciclope à procura de Ninguém; negros domariam brancos, para lhes mostrarem a chaga mais profunda do chicote. O real na ficção torna-se ilusão. As vezes, aquele é demasiadamente amargo e ao transubstância-lo o pús jorra metamorfoseado de leite. Figura que nasce do ódio e repousa no colo de Afrodite, melodia em notas graves.

A doce ilusão: alma. Filho nasce em mãe virgem, uma autofecundação divina, partenogenese. Nasce o filho de uma cosubstânciação autocriadora, eis o cordeiro que tira o pegado do mundo. Qual Mundo? Cordeiro? Faca? Imolação? Sangue, ainda, jorra da mão de Pilatus. Mas suas mãos foram lavadas?

Por quantos ângulos os Césares foram vistos. Cristãos, judeus, Isis e Anúbis. Virgílios virgiliando por Roma. Sicuta aos filósofos, ópio ao povo. Se o homem pudesse ter-se reconhecido humanidade.....Revolução idustrial, 16 horas de trabalho, mães parindo aos pés da máquina.

Crianças de ferro e aço, ao nascerem se banham de óleo, batizam-se em graxa, debutam ao perderem o primeiro dedo, esfacelado por sua madrinha, máquina. Porque ladrão se pega com tiro. Invasão no Iraque, bombas no Afeganistão, ladrão se pega com tiro. A arma, moralmente conduzida, goza de sua aristocracia ocidental, crucificados os bárbaros serão. A mão belicosa está a procura de sangue e petróleo, cifrões por natureza seus. Yes, you can.

Eu sou o escarro do leproso que inunda os corações infermos. Me prendam, tragam camisas de forças, eu estou doente em uma sociedade sadia. Preciso devorar lodo, homem sujos, mulheres cozendo o alimento que não possuem. Adapte-se. Esta sentado a direita de Deus, pai todo poderoso. Jihadistas do ser da incomensurável benevolência. Logo, minha amada, me acariciara e seu beijo resplandecerà a aurora da vida. Somente, assim, me banharei do curto desejo de estar presente. Ápos a morte nada existe, a própria morte é o nada. Tragam me à túnica de luto. Incenso e mirra, o ouro deixo aos porcos.

Açoito-me com categorias metafísicas e postulados formais. Diga aos sóbrios, que os ébrios vencerão, diga ao patriarca: as mulheres são as senhoras do mundo. O mundo quão vasto és na tela de meu computador.

Se o tutor não passa bem seus tutelados passam mal, o primeiro de olhos fechados luta por escurecer a vista dos segundos. A bruma do conhecimento. Ulisses amarrou-se no mastro de seu navio e seus tripulantes tiveram os ouvidos tampados com cera, nosso herói, o rei da astúcia, frui o canto profano das sereias e deseja abraça-las no fundo do mar. Seus homens remam, remam e remam. Mareado, enjoado e angustiado por não poderes desfrutar daquela situação em sua completude. Braços sem cérebro, cérebro sem braços. Homem cindido, multilado e o que queres ser tornar-se-a o sofrimento da humanidade. Cícero outorgou o inferno aos tolos, retórica que se arrasta até os nossos dias.

Legamos o direito Romano, direto de coisa que regula sujeito; Atenas nos deu seus espíritos mais inquietos, Sophia parte em Odisseia pela história; Esparta nos ensinou o gosto do ferro e do aço, morrer ferido pela seta inimiga és o réquiem da glória. Preferes ser: homem vivo sem os louros da gloriosa morte ou um corpo putrefado reluzente em sua magnanitude gloriosa? Onde esta a glória em mim ou em você que a me deposita? O que podemos fazer em frente ao monstro que tudo devora, seremos para ele o pão de sua ceia, a reduntante redundância sem nexo. A nau já partiu, qual é seu destino, em que terras atracaras, quantos marujos chegarem vivos, isso não importa. Navegar é preciso, viver não é preciso. Sífilis portuguesa. Em cada corpo vazio, o vácuo se espraia e o deixa mudo e surdo. Dirá o físico: o som não se propaga no vácuo, olhe-se no espelho. Vivemos o vácuo da história. Raimundo não pode solucionar os problemas do mundo, mas se amarrou a ele sufixalmente, e o que nos deixou de relíquia? Palavras não mudaram o mundo, apenas o adoçaram e até chego a pensar: me enterrem com Drummond e fexem bem a tampa do caixão. O homem é o lobo do homem, isto é, bellum omnum contra omnis. Serei em mais um cordeiro? Serei lobo? Não seremos nada a não ser a eterna negação do que fomos ontem, o movimento é a condição da vida. Mesmo sendo esta podre, sem cor, exaustiva e divina, mas a flor antieuclidiana ainda nos consola em uma ultrajante esperança, despida de sua cor e forma, todavia, incita a continuarmos o cortejo fúnebre pelo vale das sombras.