GANHAR E GASTAR
Certa vez, há muito tempo, ouvi a sentença determinante de que as pessoas não se fazem (economicamente falando), pelo que ganham e sim pelo que economizam. A todo momento se ouve que o pais, o governo, não pode gastar mais do que arrecada. Enfim, não pode gerar despesas maiores do que sua renda, sob o risco de penalizar toda a sociedade.
O pais, a sociedade, é a soma da sua população, das pessoas todas. Se é a soma de todas as pessoas, seja numericamente, seja em termos de produção, de riquezas, de poupança, de reserva, então vale também dizer que a cultura e os hábitos do “estado”, do país, é a soma dos hábitos e das ações de todas as pessoas, individualmente.
Sabemos também, que a grande maioria da população adulta do país, a população consumidora, em sua maciça maioria, geralmente vive endividada, ou seja, gasta mais do que ganha. O hábito da poupança, da reserva da prevenção, vai se esvaindo no decorrer dos tempos e na medida em que o marketing vai inflando o consumismo, daí é que o corrói de vez.
Somos um país democrático. Todo o Governo, nas três esferas, é formado por pessoas escolhidas pela população, através das eleições, livres e soberanas. Todas as pessoas eleitas, saem do seio da sociedade, do povo, como dizemos. E não adquirem novos hábitos, novos conceitos, novas atitudes, a partir do momento em que são eleitas, escolhidas. Já eram assim, já tinham tais hábitos, tais costumes, tais valores. Um grande contingente de vereadores, de deputados estaduais e federais, são reeleitos repetitivamente. Além do índice expressivo de reeleição dos cargos executivos. Quer dizer, suas condutas são aprovadas pela sociedade, que os reconduzem aos cargos executivos. Então, porque essa crítica covarde e gratuita?
Então, porque essa mania nacional, generalizada de criticar o Governo, os políticos por gastar mais do que arrecadam, de gastar de forma irracional? O telhado da nossa sociedade é de vidro, quando se fala em gastar mais do que se ganha. Quando se fala em não fazer uma reserva contenciosa. Quando se fala em não se deixar levar pela vaidade extrema, pelo marketing, deixando o futuro ao "Deus dará".
Creio piamente que se a maioria das pessoas passarem a pensar no futuro, no seu futuro - individualmente - ou em termos de família, gastando somente com o que é necessário e segundo suas reais possibilidades, baseado nos seus ganhos, com certeza a soma dessa atitude influenciaria o estado, os escolhidos, os eleitos.
Por vezes, penso que o câncer social do nosso país, não é necessariamente a corrupção ou a ganância, como tenho escrito, mas sim esse descontrole da grande maioria das pessoas, de gastarem mais do que ganham. Vive-se trabalhando hoje para comer amanhã. Quando não vendendo o almoço para comprar a janta, como se diz popularmente.
E também reclamamos dos bancos. Dos juros altos, etc. Somos nós, somente nós, que criamos essa situação. Se cada cidadão guardar um pouquinho do que ganha para comprar o que precisa, não teria que pagar juros. Se não atrasarmos as contas, não teremos que pagar juros. Se não gastarmos descontroladamente, não precisamos recorrer aos bancos para tapar nossos furos, nossos erros, nossa falta de racionalidade financeira. Então, se os juros são altos, nós - individual e coletivamente - é que somos os geradores dos altos juros. Os bancos apenas se aproveitam do nosso descontrole.
O que vejo é que todos, ou quase todos, vão se deixando levar pela propaganda. Seja dos produtos supérfluos, que exploram principalmente a vaidade, o status, seja das campanhas eleitorais dos candidatos marqueteiros e assim vamos nos endividando, seja gastando mais do que ganhamos, seja escolhendo pessoas inadequadas para administrar o estado. Sempre levadas pela propaganda, enganosa ou simplesmente ilusória.
Somos patinhos, pobres bobos – e ainda metidos a espertos - reféns da propaganda bem feita. Em todos os sentidos. Vivemos a pior das ilusões, conduzidos ao inferno financeiro levados pela vaidade exacerbada e por isso o estado é uma casinha de boneca, onde somos os bonecos, modelo fantoche de última geração. Modernos e medíocres.