ERNESTO, O FOLIÃO AZARADO

Ernesto era um folião responsável e precavido. Todo ano, com seis meses de antecedência encomendava a fantasia no atelier de sua confiança, pois sabia que seria exclusiva, original e entregue um mês antes do carnaval. E naquele ano o carnaval caía no dia 20 de fevereiro; já no dia 19 de janeiro Ernesto não pensava em outra coisa. Na manhã do dia 20, a ansiedade fez com que ele comesse, logo depois do café reforçado com torradas e ovos cozidos, uma melancia e dezenas de cubinhos de paçoca. Nem bem havia se passado quinze minutos, descascou um mamão formosa e algumas mangas. Mesmo assim, Ernesto almoçou normalmente. Embarcou no primeiro ônibus e foi pegar a sua fantasia.

Suas mãos suavam frio. Por duas vezes teve que passar o lenço na testa que parecia derreter. Chegou uma hora antecipado e por isso aguardou os últimos retoques antes de fazer a prova.

- “Caiu como uma luva. Perfeita”.

Foram as palavras de Ernesto com os olhos brilhando diante do espelho. Tanto que resolveu sair fantasiado do atelier. Queria que todos o vissem. Embarcou no ônibus de volta... mas passou despercebido das pessoas atarefadas com os afazeres do cotidiano e da moda que já andava diversificada e extravagante nas cores, estilos e gostos.

No meio do caminho, o efeito da comilança matutina rugiu na barriga de Ernesto. O que fazer? Dentro do ônibus seria horrível. Desceu no primeiro ponto e se viu apertado e perdido em uma rua estranha. Procurou um terreno baldio que parecia não passar ninguém por ali. Retirou a parte de baixo da fantasia e agachou-se, mas nem teve tempo de nada, pois logo surgiram três garotas que o descobriram de imediato. Ele trancou tudo e saiu correndo com as pernas curvas, olhos esbugalhados e segurando o conteúdo que fazia força para sair. Assim, feito bicho, desapareceu daquele lugar levando o mato no peito. Por sorte avistou outro terreno abandonado contendo uma grossa moita e ali, sem fazer força, despejou do café ao almoço. Chegou em casa aliviado, tranquilo, respirando fácil. Tirou a fantasia. Ligou a televisão e começou a assistir ao jornal, onde a notícia em destaque era a de três garotas que garantiam:

- “Nós vimos um extraterrestre”.

Após tomar conhecimento dos detalhes da reportagem, Ernesto decidiu não brincar o carnaval naquele ano, pois temia ser reconhecido em Varginha.

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