Primeiro jornal de Paraíso
 
Luiz Carlos Pais
 
 
O primeiro jornal de São Sebastião do Paraíso, no sudoeste mineiro, foi “A Voz do Paraíso”, cuja primeira edição foi publicada em 30 de maio de 1901. Tratava-se de um semanário dirigido por Antônio Simplício da Costa, que também dirigiu um jornal na cidade de Passos. Evento esse registrado em duas importantes obras históricas da cidade, de autoria dos ilustres escritores José de Souza Soares e Luiz Ferreira Calafiori. O lançamento desse jornal pioneiro tornou-se realidade graças ao auxílio de membros da sociedade paraisense, para instalação de uma oficina gráfica própria, bem como da Câmara Municipal, então sob a presidência do coronel Herculano Cândido de Mello e Souza. Para o bem da história, ainda é possível localizar dois de seus exemplares no vasto acervo da hemeroteca da Biblioteca Nacional.
 
A leitura permite conhecer um pouco mais da história da imprensa regional e ainda possibilita aproximar do contexto social, político e econômico do início do século XX. Nesse retorno, vamos encontrar cidadãos e instituições que contribuíram para o progresso da cidade. Com limitados recursos, esses jornalistas pioneiros marcaram presença diante do desafio de expandir as condições culturais e desenvolver o hábito social da leitura. Destacar eventos dessa natureza, certamente, tem uma importância que vai muito além dos limites regionais focalizados nessa crônica.
 
A nona edição, de 27 de julho de 1901, foi impressa em formato simples de tabloide, com quatro páginas. Um aviso na primeira página afirmava tratar-se de um órgão da imprensa popular, destinado a publicar somente assuntos de interesse de Paraíso e região. Avisava também que as seções pagas tinham o custo de 300 reis por linha de texto e que o pagamento deveria ser feito antes da publicação, pedindo desculpas pelo fato de não abrir exceção a nenhuma pessoa. O editorial focalizava dificuldades que a lavoura cafeeira estava enfrentando naquele momento.
 
O redator afirmava que os longos anos do regime de escravidão estavam na base da crise daquele momento e que teria ocorrido um atraso na implantação de um sistema de trabalho mais moderno, porque nem mesmo as colônias de imigrantes estavam servindo para modernizar a produção. Outra questão citada pelo redator, para justificar a crise daquele momento, seria a baixa cotação do preço do café no mercado e que as autoridades nada tinham feito para salvaguardar o trabalho dos fazendeiros.
 
Os anúncios publicados indicam que o jornal circulava em São Tomás de Aquino, Canoas, Mococa, Cássia, Franca, entre outras cidades da região. Nos anúncios de São Sebastião do Paraíso, um conhecido tropeiro, morador dos campos existentes nas proximidades da Lagoinha, avisava aos interessados que tinham excelentes animais marchadores ou mulas para fazer viagens longas, para alugar ou vender, incumbindo-se de transportá-los para qualquer lugar do Estado de São Paulo.
 
O editorial da 15ª edição, de 7 de setembro de 1901, foi dedicado à necessidade de expandir as condições culturais de Paraíso e defendia a abertura de um teatro para o deleite da sociedade. A cidade estava sendo visitada por companhias teatrais, mas não havia um espaço adequado para as apresentações. Consta ainda que a arte dramática estava sendo cultivada por artistas amadores da cidade e que a construção de um prédio apropriado seria um progresso desejado.
 
Finalmente, esse retorno permite destacar o esforço coletivo de políticos, jornalistas, educadores e historiadores, entre outros cidadãos empreendedores, que não mediram esforços para contribuir na edificação da cidade e de suas instituições por mais diferentes que possam ter sido suas bandeiras, tomando por princípio maior o respeito à diversidade e as diferenças plausíveis para a construção de uma sociedade plural. A todos esses pioneiros, nossas reverências em memória!