Golpe de Merda
A.j 37 anos, casado. Mecânico de Motos, sem antecedentes criminais, fala sobre um golpe que nem o grande Bruce Lee pensaria um dia. Frase que estampava a capa de um Jornal de grande circulação. Jogado sobre a mesa da pequena cozinha da oficina onde A.j trabalhava cada um que lia tinha um ataque de riso. Indignado com a repercussão desnecessária em sua opinião ele contou em pormenores para uma radio da cidade como tudo aconteceu. “Eu estava subindo a avenida principal depois de sair do restaurante da dona Tucha, onde comi uma feijoada que ganhei na rifa. Mais ou menos 50 metros depois que sai do local, me veio à vontade de soltar um pum, abri um pouco às pernas e continuei andando, mas algo travava meu peido. Fingi que vi um buraco e pulei para despregar o danado das paredes do canal. Deu certo, começou com aquele sopradinho e foi aumentando, aumentando até que eu notei a barriga começar a roncar e o sinal não era mais para peido, então mais do que de pressa resolvi abortar aquela operação, porém era tarde, o processo já estava em andamento e não tinha a intenção de parar. Fechei as pernas a ponto de um joelho tocar o outro, apertei os lábios para um canto e fui andando cada vez mais rápido, enquanto isso o danado do cérebro enviava mensagem de esvaziamento lá para baixo, correr não podia sob pena de um grande vexame. Comecei andar mais lento, mesmo assim não diminuía a tensa sensação de saída a qualquer momento. Batia na cabeça para tentar entortar o cérebro e nada do cérebro ir, foi então que me veio à idéia de andar na marcha Olímpica. Assim desenvolveria os passos e não deixava que ninguém suspeitasse, comecei com aquela porra de passada, andando e rebolando, de repente um carro surgiu lentamente com o carona de celular na mão apontando para mim e gritando, Ô Bichona escrota, vai tomar ao menos um banho! Daí eu notei que iniciar na marcha Olímpica exige preparo, eu nunca tinha nem assistido direito na televisão como era, desisti e aprumei o corpo, faltavam dois quarteirões, poderia enxergar o muro da oficina, atravessei a rua e poucos passos me separava do meu grande e venerado sonho de ir ao banheiro. Sentia que meu intestino grosso estava quase com cãibra de tanto segurar, dentro da barriga ondas se desenvolviam feito os mares Australianos, suava sem limites, o coração batia forte e apressado. Quando de repente um bandido vindo das profundezas do inferno arrancou a bolsa de uma mulher Bem ao meu lado, tão rápido que só vi depois que ela vociferava em desespero. Mais rápido ainda foi a gravata que tomei dele quando ia chegando à porta da oficina, a policia passava na hora, para a minha infelicidade fui tomado como refém. Ele dizia que se eu abrisse a boca morreria, mas eu tinha que remexer, não me cabia dentro de mim, apertava as poupas da bunda tentando fechar o orifício, mas o bandido apertava meu pescoço eu voltava a relaxar. Chegou o jornal, o Câmera em nome da audiência apontava para o meu lado e pegava no zoom a minha cara suada e minhas pernas inquietas, a policia falava no mega-fone e o bandido apontava a arma para a minha cabeça e eu tremendo feito gente febroso. Numa manobra desastrada abri a perna demais por culpa de um chute no calcanhar e o tubo de contenção dos detritos se rompeu, na comissão de frente vieram os puns que estavam encarcerados, a seguir um caldo fétido e depois a massa mais antiga que desceu suor. Curiosos saiam da “casa do chapéu” para ver a minha desgraça, janelas que mal se abriam estavam repletas de olhos, quando começaram aparecer helicópteros e atiradores de elite, o bandido que de besta só tinha o nome de Chico, entregou-se e foi esbofeteado ao vivo. Eu todo sujo tentei me refugiar junto as minhas graxas e papelões, mas um repórter sentindo o cheiro interceptou-me com uma pergunta idiota, Boa tarde senhor! Diga aqui para esta câmera que hoje a população anda literalmente cagando de medo dos bandidos! Então respondi, Sim algumas pessoas andam, mas no meu caso foi um golpe de merda que inventei.”