Longe do Mar
Recentemente, estive no Acre e em Rondônia, no extremo Oeste do Brasil. Percebi que as pessoas estão mais ligadas aos países vizinhos, a Bolívia e o Peru, do que com o próprio Brasil. Ao informar a minha procedência, Maceió, litoral do Nordeste, ouvi de dois taxistas: “ainda não conheço o mar”. O primeiro disse ter 41 anos de idade, o segundo 53. Este ainda acrescentou: “dizem que moramos no fim do mundo.”.
Considerando a localização geográfica, lá eles estão mais próximos do Pacífico do que mesmo do Atlântico. Para o cidadão comum, de pequeno poder aquisitivo, sem pretensões turísticas, não é de se estranhar que ainda não conheçam o mar. Entretanto, enquanto eles não vêm aqui, os nordestinos vão lá. Dizem que o cearense é o mais aventureiro dos nordestinos. Em cada canto do Brasil ou mesmo do mundo há um cearense lá. É tanto que até criaram uma piada com os americanos, dizendo que quando a Apollo 11 pousou na lua, no dia 20 de julho de 1969, lá já estava um cearense que foi logo dizendo: “Ei, cheguei primeiro!”.
Em Rio Branco, umas das principais avenidas tem o nome de Ceará. Por certo, em homenagem a um cearense que ajudou a construir aquela cidade. Lá o cearense teve tanta influência, que quando se fala em turismo no Nordeste, o primeiro nome que vem é Fortaleza. E quando eu disse que era de Maceió, um taxista perguntou-me se ficava no Ceará. Perdoei pelo seu pouco conhecimento de geografia, pelo que o outro também já havia admitido que “morava no fim do mundo.” Enquanto isso, em Porto Velho, lá estava um casal de amigos de Pernambuco, que se dispôs a mostrar a cidade, diminuindo assim o número de taxistas com quem tive oportunidade de conversar. Mesmo assim, um deles disse a mesma coisa dos acreanos: “ainda não conheço o mar”. Por tudo isso, só posso agradecer pelo privilégio que tenho, por morar tão perto do mar, que o contemplo diariamente, durante as minhas habituais caminhadas por umas das mais belas orlas do Nordeste, a de Maceió.