Francisco

Ele era um rapaz comum, desses que vemos todos os dias na rua ou no trabalho. Era extrovertido e gostava de fazer piadas com tudo em sua volta. Ao mesmo tempo era portador de uma ar respeitoso e sério e suas argumentações sempre tinham muita fundamentação e objetividade. Mas por trás de sua aparência alegre e madura havia um outro alguém bem diferente: triste, solitário e as vezes revoltado com o destino de sua vida. Ele se perguntava constantemente o porque de tanta dificuldade em achar a felicidade, já que aos seus olhos muitos haviam encontrado a fórmula secreta. Este rapaz, que respondia pelo nome de Francisco, era muito calmo mas também ansioso. Algo realmente controverso.

Como disse inicialmente, ele era um rapaz comum, porém esta característica era percebida meramente por fora, pelas pessoas que passavam por sua vida; apenas ele sabia que aquele tal ditado popular verdadeiramente fazia sentido: “Quem vê cara, não vê coração.” Tudo uma questão de aparências. Dentro do seu peito os sentimentos se misturavam, colidiam com violência e ficavam ainda mais confusos, pois seus limites não eram mais tão distinguíveis. Raiva, revolta, medo, paixão, euforia, tristeza, solidão, benevolência, mas também repulsa aos semelhantes. Pensamentos dos mais estúpidos vinham e voltavam da sua mente deixando-o meio paranoico e sensível em demasia. E o pior de tudo é que ele tinha consciência de tudo isso e no que este desequilíbrio poderia afetar sua vida pessoal e profissional, causando-lhe mais dor e medo. O Francisco estava necessitando urgentemente de ajuda médica.

Mas ele se negava em buscar tal auxílio, dizendo para sim que seria capaz de sair desta tormenta sozinho, sem remédios, sem médicos… "solito". E ia então, andando devagar, dando um passo depois do outro, vivendo um dia depois do outro, levando sua pequena “tragédia grega” com firmeza e teimosia de homem adulto. Com o tempo percebeu que mesmo os amigos mais chegados e íntimos não conseguiam entender a profundidade de sua alma, e para não arriscar desatar os laços de amizade tão difíceis de conquistar, principalmente nos dias de hoje onde tudo é superficial e dissimulado, ele evitava comentar qualquer coisa. Preferiu então calar-se e recolher-se ao seu íntimo e lá ficar, simulando uma nova realidade, e com isso morrendo dia a dia, dando lugar a outro ser… estranho!!!

Certo dia, lhe veio a mente umas ideias estranhas, confusas e ele passou a perceber o mundo ao seu redor de outra forma, mais caótico e materialista. Desistiu de teimar e passou a buscar o que o mundo todo buscara: dinheiro e materialidade. Ele se sentiu regresso aos tempos primordiais de seu espírito, aos tempos do “primata humano”. Não gostou no que estava por se transformar. Relutou um pouco, evitando se deixar submergir nessa fenda abissal fria e escura da alma. Que tempestade interior. Um redemoinho lhe puxava para as profundezas com tanta força que lhe fugia o fôlego. O peito doía com tanta ansiedade. Ainda havia uma esperança, um clarão em meio as trevas… ainda havia uma chance de ser ele mesmo. Usou sua teimosia para permanecer firme e autêntico… “Preciso de mais força.”, pensou ele, tentando se convencer e se motivar. Francisco, mesmo sendo nome de Santo, precisava ser Guerreiro agora, lutando contra ele mesmo e contra o mundo. Ele respirou fundo três vezes, expirando todo o ar que poderia expulsar de seus pulmões, quando olhando pela janela percebeu uma fina chuva. “Caia chuva e lave esse ar teimoso e denso de intensões ruins”, ele orou em silêncio. As gotas pareciam lágrimas de amantes não correspondidos. Chuva fina e intensa que chegou para ficar, lavando tudo e a todos. “O Sol sempre volta”, pensou Francisco esperançoso… “Sempre volta!”.

Wagner de Azevedo
Enviado por Wagner de Azevedo em 03/02/2016
Código do texto: T5532566
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