Escrever para não sofrer
 



 
 
                              Estou começando a achar que sim. A grande romancista Lygia Fagundes Telles não disse exatamente isso. Vamos ver a  frase dela: “Se você para de escrever, se torna infeliz”.
                               Alguém mais astuto vai intuir logo de cara que devo estar sofrendo. E acertou!
                               Mas tem tanto tipo de sofrimento, desde os mais bobos até os mais sérios.
                               E começo a lembrar dos meus sofrimentos de adolescente. Hoje vejo, já adulto,  como eram bons meus sofrimentos. Nessas horas, a minha maior  vontade era fugir.
                               E nunca fugi. Tenho essa frustração!  Lá na minha adolescência , quando me preparava pra fugir, sempre aparecia um colega me convidando para ir à praia, ou para ver o Flamengo à tarde no Maracanã. Naqueles tempos, era muito difícil fugir do Rio de Janeiro. O Rio, meu amigos, era mais moleque do que eu e então “caíamos na gargalhada”. O sofrimento não conseguia nos pegar...
                               Mas hoje estou sofrendo!
                               E é por isso que estou escrevendo. Não sei como vou terminar este texto e não quero decepcionar meus amigos. Fico pensando no Seminale. Tenho que dar a volta por cima...
                               Lá na minha adolescência, era só telefonar para o meu amigo “Fon-fon” e minha alegria voltava logo.
                               Meu Deus, tanta gente sofrendo no mundo e eu aqui “choramingando”. Não é justo!
                               Afinal,  estou escrevendo pra não sofrer.

                               Bem, vou contar o que houve comigo e que me derrubou na cama. Foram três ou quatro fatores adversos e que vieram ao mesmo tempo. Logo eu que jamais havia ficado de cama.
                               No dia 24 de dezembro do ano passado como grande quantidade de queijo estragado, resultando numa diarreia de 15 dias e perda de alguns quilos. No dia 30 de dezembro, logo em seguida, descubro um ferimento em um dos dedos do pé. Dor insuportável. Ingenuamente, imaginava que tinha sido um trauma das diversas pisadas que meu cão Pimpão me aplicava, nas brincadeiras que fazia com ele. Não era. O ferimento apareceu em virtude do meu fluxo sanguíneo que estava lento. No fim do ano passado, não encontro nenhum médico de confiança para uma consulta. Meu angiologista havia sido operado de cálculos renais. Faço por conta própria um exame de sangue e para minha surpresa antiga anemia instalara-se em mim.
       Eu já estava me preparando para fazer exames no meu intestino, o que acabei fazendo (colonoscopia e de quebra endoscopia), já no fim de janeiro deste ano.
        Lá em cima, falei do Seminale (nome artístico no Recanto), que na verdade chama-se Antonio Carlos, grande amigo e  médico pediatra no Rio de Janeiro, além de clínico geral dos mais competentes.
         Ontem, dei a notícia para o Antonio Carlos, que me deu uma lição formidável sobre o estômago e constatou em mim uma gastrite moderada. Anos de comida inadequada e estresse emocional. Acertou na mosca. Até aí tudo bem. Foi quando o médico me pediu que enviasse o resultado da colonoscopia (termos médicos ininteligíveis e que me assustaram). Já sei, felizmente, que não há nada relativo a câncer. O que há certamente é existência de pólipos. No entanto, por covardia, não enviei o resultado para o meu amigo médico, pedindo um tempo. Minha consulta com o médico de Itaperuna será no dia 16 de fevereiro.
             Foi quando o Antonio Carlos me disse: “ Caso você não mande o resultado para meu exame, faça então uma crônica.
             Este o motivo desta crônica, aproveitando para falar do Antonio Carlos. Veio-me à memória um fato que ocorreu com o Nelson Rodrigues. Dizia ele que foi salvo por duas vezes pelo Dr.Murad, notável cardiologista. Dizia que seu médico era bom as 24 horas do dia. Com seu humor arrematava: " Temos uma bondade frívola, distraída, relapsa. Na verdade, somos bons apenas 15 ou vinte minutos por dia".  E dizia maravilhas do Dr. Murad, o que vou aproveitar para dizer o mesmo do meu amigo Antonio Carlos. Não conheço homem de tanta pureza quanto o Antonio Carlos. E ele esconde muito bem essa virtude. Só os íntimos sabem disso.
              Posso dizer sem medo de errar que ele é um homem de uma espécie em extinção para os dias de hoje. Exerce a medicina por vocação e amor. Ele é aquele médico que se chamava antigamente de médico de família. Leva a profissão como um sacerdócio e está sempre à disposição do cliente, faça mal ou bom tempo.
               Desconfio que meu amigo nem férias tira. Se entra em férias, deixa seu telefone particular para que os clientes o encontrem.
               O sofrimento, meus amigos e amigas, faz o milagre de nos tornar melhores. Apesar de procurar ser simples  e ter compaixão pelos outros, sinto que fiquei mais humilde e passei a ver o mundo com outros olhos. Me fez bem o sofrimento, ainda mais que me permitiu falar de um amigo dileto, o Seminale do Recanto. Estava faltando falar sobre este singular ser humano.
                             
                               Piscando o olho para meus amigos e amigas, dou uma banana pro sofrimento e termino com mais amor no coração esta minha crônica.