Sociedade Beneficente União Italiana
Luiz Carlos Pais
Luiz Carlos Pais
A Sociedade Beneficente União Italiana foi uma entidade social criada, em 1910, por líderes da comunidade de imigrantes italianos da cidade mineira de São Sebastião do Paraíso. Na mesma época, foram criadas em outras cidades do país, entidades com a mesma denominação ou com pequena variação, mas com destaque para a expressão “União Italiana”, por vezes, grafada como “Unione Italiana”. Essa é a forma como consta em documentos referentes a instituição histórica de São Sebastião do Paraíso, onde a comunidade italiana, entre outros grupos de imigrantes, teve uma presença marcante e muito contribuiu para o progresso da cidade.
A fase inicial de constituição da entidade paraisense contou com a liderança do padre italiano, Aristóteles Aristodemus Benatti, quatro anos após ter assumido as funções de pároco. Embora tenha permanecido pouco mais de seis anos na cidade, padre Benatti liderou, em 1907, a instalação do Ginásio Paraisense, um estabelecimento de ensino secundário cuja trajetória atravessou cinco gloriosas décadas. Em 1910, iniciou então a constituição da sociedade que, além de congregar italianos, tinha outros membros com diferentes ascendências étnicas, mas predominantemente de origem europeia. Fato que deve ser considerado em relação aos diferentes ritmos de aproximação dos povos que resultou no multiculturalismo da sociedade brasileira, sem perder de vista a importância dos indígenas e das diversas nações africanas.
É possível conhecer um pouco mais as raízes da Unione Italiana em São Sebastião do Paraíso no Anuário Estatístico de Minas Gerais, de 1926. Nessa fonte consta que a entidade paraisense era composta por 161 associados e que as suas finalidades estavam restritas às festas recreativas, culturais e filantrópicas. Dois anos antes da publicação do referido anuário, tinha sido criado o Departamento de Ordem Pública e Social e o governo estava de olho, nas grandes cidades, nas atividades de organização de sindicatos inspirados no pensamento socialista italiano do início do século XX. O filme dirigido por Bertolucci, 1900 ou Novecento, produção ítalo-francesa de 1976 trata do contexto de difusão das lutas trabalhistas e socialistas com reação à ascendência do fascismo no contexto que precedeu a Primeira Grande Guerra. Mas é bem provável que esse clima não tenha chegado às comunidades do interior mineiro, mas os órgãos púbicos estavam atentos ao tipo de atividades exercidas pela Unione.
Os dados registrados pelo governo mineiro permitem então recuperar para a história regional que a instituição paraisense promovia, com regularidade, animadas serestas dançantes, noites musicais, saborosos jantares, com apresentação de peças literárias e teatrais. Para manter as despesas, cada associado pagava uma pequena anuidade, totalizando um orçamento anual de 24 mil reis, pouco mais do que o salário anual de um professor primário estadual daquela época. Entretanto, houve um esforço maior por parte dos membros mais abastados da sociedade, destacados comerciantes e grandes fazendeiros de café, que doaram os recursos necessários para aquisição de uma sede própria, um prédio localizado na rua Pimenta de Pádua.
A fonte usada para escrever essa crônica permite também uma visão geral de outras associações existente em São Sebastião do Paraíso, na década de 1920. Entretanto, tratava-se apenas de entidades que estavam registradas nos órgãos públicos. É preciso fazer essa observação porque existiam outras organizações que não estavam formalizadas no momento da pesquisa. A memória coletiva guarda lembranças, por exemplo, de outros grupos de imigrantes, membros de comunidades afrodescentes, entre outros, por exemplo. Desse modo, consta que a cidade de São Sebastião do Paraíso estava servida, por dezenove associações, sendo duas delas desportivas; uma de cooperação de classe; seis artísticas e recreativas; três de assistência social e outras sete associações religiosas. Entretanto, uma mesma associação podia estar inserida em mais de uma dessas categorias.
No contexto do pós-guerra, em 1946, em decorrência da posição assumida pelos governos nazifascistas, houve desdobramentos que chegaram incomodar alguns imigrantes italianos, alemães e japoneses. Também foram cometidos alguns exageros policiais em Paraíso, como o caso da tentativa de apreensão de um rádio receptor de ondas curtas de propriedade de um honrado comerciante italiano, estabelecido na praça central da cidade. Ainda tenho na memória o inesquecível sabor da minha infância da década de 60, quando saboreava o sorvete de frutas, fabricado pelos familiares do referido comerciante italiano. Nos anos de guerra, um policial entendeu que o aparelho poderia ser usado para “transmitir mensagens para o exterior”.
Consta no imaginário social que graças ao advogado José de Souza Soares, a justiça foi feita para apaziguar o coração dos “nossos queridos italianos e conterrâneos”, que estavam naquele momento plenamente inseridos na diversidade cultural do país. Passados esses momentos difíceis, eles continuaram suas honradas rotinas de laboro para o progresso da cidade. Três anos depois do final da guerra, a sociedade foi dissolvida, quando o seu último presidente, capitão Emílio Carnevale, teve a feliz ideia de doar o patrimônio à Santa Casa de Misericórdia de São Sebastião do Paraíso. Esse patrimônio era constituído por um prédio localizado na rua Pimenta de Pádua, onde posteriormente funcionou um Posto de Saúde e hoje está instalado um centro de comércio popular.
Para finalizar essa história regional plenamente inserida no panorama histórico do país cumpre registrar que o mencionado Anuário Estatístico de Minas Gerais, de 1926, foi um trabalho publicado pela Imprensa Oficial do Estado, quando esse órgão era dirigido pelo inspirado poeta paraisense Dr. Noraldino Lima, que também foi professor, jornalista, advogado, deputado, secretário de educação, interventor federal no Estado (1946) e exímio administrador de instituições financeiras. Essa primorosa fonte com mais de 500 páginas tem diversas informações sobre aspectos culturais, educacionais, esportivos, religiosos, serviços públicos, entre outros. São informações recolhidas até 1921, quando o Estado de Minas tinha apenas 178 municípios.
A fase inicial de constituição da entidade paraisense contou com a liderança do padre italiano, Aristóteles Aristodemus Benatti, quatro anos após ter assumido as funções de pároco. Embora tenha permanecido pouco mais de seis anos na cidade, padre Benatti liderou, em 1907, a instalação do Ginásio Paraisense, um estabelecimento de ensino secundário cuja trajetória atravessou cinco gloriosas décadas. Em 1910, iniciou então a constituição da sociedade que, além de congregar italianos, tinha outros membros com diferentes ascendências étnicas, mas predominantemente de origem europeia. Fato que deve ser considerado em relação aos diferentes ritmos de aproximação dos povos que resultou no multiculturalismo da sociedade brasileira, sem perder de vista a importância dos indígenas e das diversas nações africanas.
É possível conhecer um pouco mais as raízes da Unione Italiana em São Sebastião do Paraíso no Anuário Estatístico de Minas Gerais, de 1926. Nessa fonte consta que a entidade paraisense era composta por 161 associados e que as suas finalidades estavam restritas às festas recreativas, culturais e filantrópicas. Dois anos antes da publicação do referido anuário, tinha sido criado o Departamento de Ordem Pública e Social e o governo estava de olho, nas grandes cidades, nas atividades de organização de sindicatos inspirados no pensamento socialista italiano do início do século XX. O filme dirigido por Bertolucci, 1900 ou Novecento, produção ítalo-francesa de 1976 trata do contexto de difusão das lutas trabalhistas e socialistas com reação à ascendência do fascismo no contexto que precedeu a Primeira Grande Guerra. Mas é bem provável que esse clima não tenha chegado às comunidades do interior mineiro, mas os órgãos púbicos estavam atentos ao tipo de atividades exercidas pela Unione.
Os dados registrados pelo governo mineiro permitem então recuperar para a história regional que a instituição paraisense promovia, com regularidade, animadas serestas dançantes, noites musicais, saborosos jantares, com apresentação de peças literárias e teatrais. Para manter as despesas, cada associado pagava uma pequena anuidade, totalizando um orçamento anual de 24 mil reis, pouco mais do que o salário anual de um professor primário estadual daquela época. Entretanto, houve um esforço maior por parte dos membros mais abastados da sociedade, destacados comerciantes e grandes fazendeiros de café, que doaram os recursos necessários para aquisição de uma sede própria, um prédio localizado na rua Pimenta de Pádua.
A fonte usada para escrever essa crônica permite também uma visão geral de outras associações existente em São Sebastião do Paraíso, na década de 1920. Entretanto, tratava-se apenas de entidades que estavam registradas nos órgãos públicos. É preciso fazer essa observação porque existiam outras organizações que não estavam formalizadas no momento da pesquisa. A memória coletiva guarda lembranças, por exemplo, de outros grupos de imigrantes, membros de comunidades afrodescentes, entre outros, por exemplo. Desse modo, consta que a cidade de São Sebastião do Paraíso estava servida, por dezenove associações, sendo duas delas desportivas; uma de cooperação de classe; seis artísticas e recreativas; três de assistência social e outras sete associações religiosas. Entretanto, uma mesma associação podia estar inserida em mais de uma dessas categorias.
No contexto do pós-guerra, em 1946, em decorrência da posição assumida pelos governos nazifascistas, houve desdobramentos que chegaram incomodar alguns imigrantes italianos, alemães e japoneses. Também foram cometidos alguns exageros policiais em Paraíso, como o caso da tentativa de apreensão de um rádio receptor de ondas curtas de propriedade de um honrado comerciante italiano, estabelecido na praça central da cidade. Ainda tenho na memória o inesquecível sabor da minha infância da década de 60, quando saboreava o sorvete de frutas, fabricado pelos familiares do referido comerciante italiano. Nos anos de guerra, um policial entendeu que o aparelho poderia ser usado para “transmitir mensagens para o exterior”.
Consta no imaginário social que graças ao advogado José de Souza Soares, a justiça foi feita para apaziguar o coração dos “nossos queridos italianos e conterrâneos”, que estavam naquele momento plenamente inseridos na diversidade cultural do país. Passados esses momentos difíceis, eles continuaram suas honradas rotinas de laboro para o progresso da cidade. Três anos depois do final da guerra, a sociedade foi dissolvida, quando o seu último presidente, capitão Emílio Carnevale, teve a feliz ideia de doar o patrimônio à Santa Casa de Misericórdia de São Sebastião do Paraíso. Esse patrimônio era constituído por um prédio localizado na rua Pimenta de Pádua, onde posteriormente funcionou um Posto de Saúde e hoje está instalado um centro de comércio popular.
Para finalizar essa história regional plenamente inserida no panorama histórico do país cumpre registrar que o mencionado Anuário Estatístico de Minas Gerais, de 1926, foi um trabalho publicado pela Imprensa Oficial do Estado, quando esse órgão era dirigido pelo inspirado poeta paraisense Dr. Noraldino Lima, que também foi professor, jornalista, advogado, deputado, secretário de educação, interventor federal no Estado (1946) e exímio administrador de instituições financeiras. Essa primorosa fonte com mais de 500 páginas tem diversas informações sobre aspectos culturais, educacionais, esportivos, religiosos, serviços públicos, entre outros. São informações recolhidas até 1921, quando o Estado de Minas tinha apenas 178 municípios.