A Síndrome da Ficha Suja

Lembro-me como se fosse ontem do primeiro político corrupto do país que apareceu com o que o povo divertidamente chamou de “Síndrome da Ficha Suja”. No início, a doença só atacava políticos e funcionários públicos COMPROVADAMENTE corruptos, embora sem punição, como é muito comum em nosso país. Tinha uma evolução rápida e o prognóstico era TERRÍVEL.

De repente, o cu do corrupto começava a coçar e a pinicar de tal forma que nenhum remédio resolvia, e não dava para disfarçar: a pessoa não podia nem sair de casa. O que aliviava UM POUCO a coceira era esfregar no cu do corrupto um pepino japonês GELADO, introduzindo-o de leve, só um pouquinho, na entrada, e ir fazendo um movimento de vaivém bem devagar. Mas assim que o corrupto se cansava do pepino, a coceira voltava com força REDOBRADA.

Um ou dois dias depois apareciam uns pequenos caroços no cu do corrupto, pequenos furúnculos, que no decorrer do dia ou da noite aumentavam de tamanho ASSUSTADORAMENTE, e doíam muito, impedindo o infeliz de sair da cama, onde ele ficava o tempo todo com a bunda virada para cima. Quando a doença se encontrava nessa fase e o corrupto tinha que defecar, era um ‘Deus nos acuda!’. Os furúnculos eram tão grandes que impediam a saída das fezes, o que obrigava o corrupto a ir a um hospital para receber uma anestesia e, em seguida, uma lavagem intestinal.

Mas a fase dos furúnculos inchados durava pouco, no máximo dois ou três dias, pois um a um eles estouravam, liberando nas roupas íntimas e nos lençóis do corrupto uma quantidade INACREDITÁVEL de pus e sangue. E a dor continuava. O corrupto tinha febre, calafrios e delirava. Tentava virar na cama e não conseguia. Chorava. Até que vinha a fase da descamação, quando a pele do cu do corrupto se soltava, deixando toda a região anal em CARNE VIVA. O ardor era insuportável: para defecar, o corrupto padecia um sofrimento ATROZ, como se estivesse sendo marcado com ferro em brasas ou açoitado com fios de aço eletrificados. Em seguida surgiam tantas feridas no cu do corrupto que era preciso lacrá-lo com curativos e, por meio de uma cirurgia, implantar uma bolsa ligada ao intestino para coletar as fezes. A doença normalmente levava à morte em três ou quatro meses, com a explosão do cu do corrupto e de parte do seu intestino.

Logo a doença começou a atacar também suspeitos de corrupção (sem provas), e não só no mundo da política: empresários, gerentes, diretores e outros funcionários do setor privado, suspeitos de envolvimento em esquemas de corrupção, também se viram acometidos pela síndrome. Outros que nem eram suspeitos (mas eram corruptos, como mais tarde se comprovou) também começaram a ser atacados.

Numa universidade descobriram que a única coisa que paralisava a doença e aliviava UM POUCO os sintomas era a confissão do corrupto e sua permanência 'ad aeternum' num presídio, SEM REGALIAS. Mas isso era um problema, porque não havia vagas em número suficiente, o que acabou levando à construção de novos presídios – prédios enormes, de quinze, vinte andares, divididos em alas de acordo com as fases da doença em que os corruptos se encontravam. Havia a ala da coceira, a dos furúnculos pequenos, a dos furúnculos grandes (onde havia um local apropriado para lavagem intestinal), a da descamação anal e a das feridas, que era a fase terminal, pré-explosão. Muitos que chegavam ao presídio na fase terminal não sobreviviam.

Hoje, o medo causado pela “Síndrome da Ficha Suja” tem contribuído para que as pessoas não se arrisquem nem a furar fila de banco, o que é muito bom. A corrupção no país está praticamente erradicada. Sobra dinheiro para investir em saúde, educação, saneamento básico, segurança, transporte, etc., e tudo da melhor qualidade, PARA TODOS.

Que sonho...

Flávio Marcus da Silva
Enviado por Flávio Marcus da Silva em 02/02/2016
Código do texto: T5531149
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