GERAÇÃO DE CABEÇA BAIXA
GERAÇÃO DE CABEÇA BAIXA
Prof. Antônio de Oliveira
antonioliveira2011@live.com
Naquele tempo, Moisés foi surpreendido com um acontecimento inesperado. Encontrou seu povo, e povo de Deus, adorando um bezerro de ouro. Ofereciam sacrifícios ao ídolo, comiam e bebiam, e dançavam. Moisés se indignou, naturalmente. Hoje, distante no tempo, esse episódio bíblico parece risível a muita gente. Adorar um bezerro de ouro?
A lembrança desse episódio bíblico tem tudo a ver. Só muda o objeto de adoração, cuja matéria-prima é a mesma, o ouro ou coisa que o valha como valor supremo ou objeto de uso ou consumo. O poeta Virgílio já se referia à “sacra” fome de ouro. Os corruptos em geral estão atrás de ouro, de dinheiro, de dólares, de propinas incalculáveis. Ganhar na loteria, para muitas pessoas, é o maior sonho de consumo.
Como objeto de consumo, parece que a nossa geração optou por eleger o smartphone como o maior ícone da deusa tecnologia, prestando-lhe, por vezes dia e noite, sua reverência, e se mantendo de cabeça baixa horas e horas seguidas. Namastê é um cumprimento em sânscrito. Ao pé da letra, significa “curvo-me diante de ti”. Na ioga, namastê é o cumprimento que se dirige ao instrutor e, nesse caso, significa “eu sou o vosso humilde criado”.
Fico imaginando que as pessoas nomofóbicas, isto é, que não se desgrudam do celular para nada, tão logo acordam de manhã dirigem ao seu smartphone o cumprimento namastê. A propósito, a palavra nomofobia é uma abreviação de “no mobile phobia” que, literalmente, significa o medo de ficar sem celular. Uma pessoa nomofóbica mal sabe o que é conversar “tête-à-tête”, cara a cara, olhando de frente, muito menos olhando nos olhos de seu interlocutor que, nesse caso, também deixa de ser interlocutor. E, quando o é, o celular funciona como uma espécie de moço de recados sempre à disposição, desde que esteja ligado e à mão.
Finalmente, acho que vale também para o uso do celular a advertência sobre o consumo de bebidas alcoólicas: – Use com moderação!