PEQUERRUCHA
             Nair Lúcia de Britto
 
 
- Mamãe, pediu a Silvia, conte uma história de quando eu era mais pequena! Depois, esfregou os olhinhos pesados de sono e bocejou.
- É tarde, eu respondi – Você precisa dormir.
E enquanto eu lhe ajeitava as coberta, corrigi:
- Não é mais pequena que se diz. E sim, é “menor”!
- Ah!, desculpe, de quando eu era menor.
Eu ri. Essa menina nunca desiste daquilo que quer. Ela sempre insiste. Com seu jeitinho e artimanhas consegue o que quer. Então comecei a contar:
- O que se passa num coração de mãe, só mesmo sendo mãe pra saber. Você era uma bonequinha loira, cabelo lisinho, lisinho... Tinha apenas dois anos de idade; e eu a chamava de “ Pequerrucha”. Você costumava ir brincar com sua irmã Sandra, onze meses mais velha, na casa da amiguinha Patrícia. Ou, então, adorava correr, com as perninhas tortas, por entre os bancos da Igreja, em frente de casa. O padre João, santo padre aquele, ralhava, mas qual o quê!
Eu servia a janta lá pelas seis da tarde e, naquele final de dia, ainda estava bem claro. Quando fui até o portão de casa, o frescor da brisa era um convite para a criançada brincar de roda na Praça.
-Sandra! Silvia! – venham jantar!
A Sandra atendeu prontamente, mas você... cadê você?
Procurei-a pelas redondesas e não a vi em nenhum lugar!  Meu coração apertou, ficou frágil, fraquinho como o de um passarinho...
- Vocês viram minha filhinha? – eu perguntava aos vizinhos, enquanto meus olhos marejavam de lágrimas. Nisso, uma viatura da Polícia passou. Instintivamente eu gritei:
- Pare, pare! –  acenei, cheia de aflição.  
Imediatamente a viatura parou e um guarda, muito solícito, desceu e veio ao meu encontro.
- O que foi que houve?
-Minha filha, minha filhinha desapareceu!
-Calma, calma! Como é sua filha, com que roupa ela estava. Faremos uma ronda e vamos encontrá-la.
- Por favor, por favor! – eu agarrei o braço do guarda, enquanto suplicava.
Diante daquela cena dramática, várias pessoas vieram à rua para ver o que estava acontecendo. Nem me dera conta  de toda aquela gente que me cercava; só com o pensamento em você.
Nisso, a porta de uma casa se abriu e a menina travessa apareceu, com seus cabelos loiros e um olhar assustado. Quando me viu chorando, correu com as perninhas tortas na minha direção e me abraçou com força!
Vim para casa com ela no colo, esquecida do guarda e de todo mundo me olhando.
- Pequerrucha, Pequerrucha, eu dizia, nunca mais me abandone!
A Sandra, que também ouviu toda a história, adormeceu sorrindo.
(Esta Crônica foi publicada no Jornal "Primeira Cidade", de São Vicente, sob a direção do saudoso ex-prefeito Antonio Fernandes dos Reis}. 

Silvia, feliz aniversário. Que Deus te dê muita saúde e felicidade. É o que te deseja sua mãe que nunca deixou de te amar. 22 de maio de 2023.


 

Nair Lúcia de Britto
Enviado por Nair Lúcia de Britto em 31/01/2016
Reeditado em 21/05/2023
Código do texto: T5529260
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