MUDAR A NÓS MESMOS AJUDA A MUDAR O MUNDO.

Ouço, vejo, leio, sinto, enfim percebo a triste realidade que me cerca. Claro, não sou de todo pessimista, há muita coisa boa, posso dizer que o mundo evoluiu, que a tecnologia avançada me permite viver melhor do que meus pais, avós, bisavós..., que há pessoas boas que me cercam, que torcem para que as coisas deem certo para mim etc, etc, etc, mas não posso ser um sujeito alienado a ponto de não notar os desastres de meu tempo, e, em conseqüência disso, não lutar por um mundo melhor.

Retomemos o assunto desastres. Quando digo de desastres, refiro-me principalmente a todos os tipos de violência que notamos mundo afora, nas guerras frias, quentes, civis, mundiais, nacionais, virtuais, ambientais, na violência nos bairros das grandes e pequenas cidades, nas ruas, nos lares, nos quartos...

Dizer que a vida perdeu seu valor, já me é um clichê dos baratos, senso comum. Perder a vida por motivos fúteis, já não me assusta. O anormal, para mim, é não haver violência durante um dia, meio dia, uma hora... A cada segundo há uma violência ocorrendo. Bizarro, para mim, é falar de amor. Não revidar às agressões, é covardia, fraqueza. Forte é aquele que não deixa barato.

Não vejo boas notícias tendo destaque nas principais manchetes de jornais. Não sei se, devido a isso, aprendi a não apreciar o bom, mas o ruim; o crime, na tela, tanto maior, maior é a minha atenção, e o que há de bom em mim vai se escasseando diariamente.

O poeta Drummond disse, "Chega um tempo em que não se diz mais meu Deus, chega um tempo em que não se diz mais obrigado". Meu tempo chegou.

A violência de que falo vai além da que vejo comumente na tela da TV. A violência cometida pelos governantes que desmesuradamente metem a mão no meu imposto, cujo fim seria contribuir para a educação, para a moradia de quem não tem onde se abrigar nas noites frias, para a saúde, para manutenção das nossas rodovias e estradas etc. Digo apenas essas necessidades para não me estender demais, pois são muitas.

Essa violência que comumente aos olhos do cidadão simples não é visível, certamente é, em grande parte, responsável pelo sangue que diariamente corre no sola dessa pátria amada. Não, não sou idealista ingênuo a ponto de acreditar que todos os problemas sociais seriam resolvidos caso essa corrupção se acabasse, mas certamente seriam menores, muito menores.

A violência ainda é manifesta nos pequenos atos corriqueiros, como nos simples roubo do freguês que ao receber o troco a mais não o devolve ao caixa, está no preconceito social, racial, de gênero, religioso, étnico entre outros. Eu poderia passar aqui muito tempo enumerando as mais diversas formas de violência, contudo paro por aqui com essa pouca mostra do que presencio no meu cotidiano. Também não sou presunçoso a ponto de me achar isento de alguns atos. Também sou pecador, e não são raras as vezes que cometo muitos deles.

Sobre o amor? Digo que ele se tornou um nome comum. É natural ouvir eu te amo, mas são raros os gestos que expressam esse amor. Na impossibilidade de amar, o respeito ao outro deveria imperar. Só que o que vejo é o ódio, é a aversão ao diferente sem justificativas, muitas vezes o simples fato de o outro ser diferente é a justificação para uma barbárie.

Acostumei-me ou me contaminei a tal ponto com a violência que chego a estranhar o bom, um ato gentil vindo de uma pessoa desconhecida. Afinal, fui instruído a não crer em estranhos. Estranho sempre um bom atendimento nos recintos públicos, a gentileza nas lojas, nas ruas, nas praças, pois sempre creio que há segundas intenções, e de fato muitas vezes há.

E aqui me pego a refletir sobre nosso destino no mundo; fico diante de sentimentos ambíguos: encarar esse mundo, lutar e acreditar num futuro melhor para os habitantes dessa nossa nação, desse nosso planeta? Ou seria perda de tempo, uma mera ilusão crer nisso? Não há nada que fazer; aceitá-lo assim e não me iludir com esperanças de um futuro bom? Bom, se eu parto para o que diz as sagradas escrituras, elas me dizem que o mundo jaz no maligno. Diante disso, novamente me pergunto, não há solução? O que fazer? Lutar pela paz, pela boa convivência, mesmo sabendo que ela jamais será alcançada? Não seria perder tempo ou bancar o tolo lutando por algo que vejo impossível? Portar-me feito um niilista seria um modo bom de se viver? Abdicar da ilusão de um mundo melhor, não fazer nada? Entregar-me ao pessimismo ou lutar pela utopia de um futuro bom, de pessoas honestas?

No fim de tudo isso, creio, contudo, que é importante continuar. Mas descubro que mudar o mundo não está em minha alçada, o que posso tentar e fazer é mudar a mim mesmo diariamente. Cuidar do meu mundo, meu universo, meu país interior. Com isso, é bem provável que estarei fazendo quase o impossível e deixando um legado ao mundo onde nasci.

Daniel Pereira S
Enviado por Daniel Pereira S em 31/01/2016
Código do texto: T5528587
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