Evitem certos mascarados
Há quem vive caindo, não sabendo onde pisa, botando o pé em buraco ou levando topada; tem, nos bicos dos sapatos, as marcas dessas coisas, pois, bate com a ponta do pé em pedras que, em todos os sentidos, enquadram-se na imagem de Drummond: "No meio do caminho tinha uma pedra" (...). Tais versos seriam proveitosos para substituir quem está sempre a avisar: Olhe a pedra, olhe o batente ou veja o buraco.Parece que uns nasceram para ser pedra ou buraco na vida dos outros; mas, segundo as teorias, ninguém nasce assim, forma-se conforme a família, a casa ou o meio onde "cresceu". Aí vem Freud, explicando que o onde, o como e a convivência, nas infâncias e adolescências, têm força, até a de mudar o comportamento dos nossos gêneros. As pedras em si, eventuais atropelos nos caminhos, não têm gênero, assexuadas, não vivem, são femininas enquanto "palavra do substantivo"; fora disto, ela não é do gênero feminino, do neutro, tampouco do masculino.
Buracos, pedras ou batentes não se mascaram. Enquanto obstáculos, nas estradas, existem e apenas não são vistos, como se fossem invisíveis, mas não se disfarçam. Descuidamos dos disfarçados, ao confiarmos que eles não provocarão trombico, escorrego ou queda. Nada melhor, nesses casos, do que cortar caminho para escapar de incômodos e constrangimentos. Ora, as pedras em si não caminham, nem andam, nem se movimentam, apenas rolam de ladeira abaixo ou são atiradas... Já os mascarados são lépidos, eles próprios se atiram, perigosos sobretudo porque não são o que são... E movimentam-se, correm e perseguem. Vejam um desses no filme Orfeu Negro, ou analisem a proibição de máscara aos que, nas manifestações, maquinam quebrar, incendiar, roubar ou praticar violência, escondendo-se por trás das máscaras. No Carnaval, há também desses disfarçados, então, evitem buracos e certos mascarados.