Noite fria, vinho e poesia

O tríplice portal e seus infinitos elementos:

Noite fria, vinho e poesia literária.

Para os inquietos, noites frias e silenciosas, são as melhores noites, com vinho e literatura, estas noites se tornam rituais de passagem.

Geralmente nessas noites alquimias acontecem, forças se emanam de pontos elevados do nosso pensamento, pouco do mundo importa pois a Odisseia é interna e tudo pode acontecer..

Se temos vinho, temos a chave, temos o sangue e o espírito dos deuses bastardos da poesia, os que mais sabem da vida, suas regras e transgressões, e morrem de doenças venéreas, pulmonares e de cirrose aos vinte e tantos anos!

Tenho certeza que não sou exceção desta linha cortante de pensamento, noite fria, vinho e poesia soam como um ritual de beleza e mistério, de passagem e eterno retorno..

Por falar em Eterno Retorno a poesia que cito veio em Literatura, em trechos questionadores, na noite fria, vazia e silenciosa: o Eterno Retorno de Nietzsche já é citado por Milan Kundera, o mesmo que aconteceu, acontecerá de novo, e de novo, sempre de maneira única, incontrolável, isso não é nada confortante, isso se chama impulso vital, todos somos micro-peças substituíveis dessa engrenagem...

É de um peso insustentável essa ideia que flutua como fumaça: Talvez todas as outras opções que deixamos de escolher em nossas vidas fossem as mais corretas, mas a condenação é que nunca saberemos se seriam de verdade...e que todo o acaso do mundo poderia fazer com que tudo fosse diferente...e se fosse?

Para mergulhar e erguer-me nessa insustentável leveza, sou grato profundamente ao acaso por esse clima da serra da Borborema hoje me proporcionar o termino dessa obra. Noites como esta são verdadeiros presentes para se refletir...

Há noites em que o frio combina com o silêncio, como se ambos conspirassem uma verdade inquestionável, portanto desnecessária de ser dialogada, ao mesmo tempo que o silêncio te convida a pensar em tudo, só a arte salva nessa hora!

Uma noite fria e silenciosa é uma daquelas horas em que tudo acontece lá fora, sem nos importarmos, estamos em transe com nossos pensamentos, o silêncio do mundo e sua escuridão enclausuram tudo, a realidade passa diante dos olhos, tudo que já passou, que está passando, e que vai passar diante da medição dos delírios e da desmedida introjeção. Podemos pensar em tudo, porque todos ou dormem ou estão bêbados..

Se a noite está fria, se padeces consigo mesmo, faça tudo, menos deixar de contempla-la...a noite fria e embriagante é real! Sorte se houver lua, mais sorte ainda se houver mais vinho, e tudo faz sentido se houver uma literatura que amarra o laço da dúvida na Pedra de Sísifo e desaba em sua imaginação arrastando todas as sensibilidades corteses, para um "nunca mais", que insiste em negar a si mesmo e retornar...

Na companhia conspiradora da solidão, é o que lhe desejo, uma noite fria, vinho e poesia...