Notas de uma partida
Nunca notei sua falta, contei sempre com sua presença. O "tintilar" das chaves na fechadura - ruído típico do anúncio de sua chegada ou partida - me faziam perceber a dor que eu ainda não sentia. Mas que hora ou outra atendia a seu prelúdio. Vinha calma, sempre sussurrante para não me assustar, o terror que era praxe tomava conta calmamente, me paralisava. Como uma brisa suave, passava dentro de mim todo esse pensamento momentâneo, meu peito: ansiedade. Doía. A memória a partir daí passava a trabalhar desesperadamente, sem cessar um instante, transpondo cenas as outras de maneira sagaz e atormentadora. Como se eu tentasse falar tudo aquilo que tinha guardado dentro de mim sem voz nem palavra. Que pensamento vulgar. Por hora desisti de persegui-lo e me recolhi a coragem de amador que nunca ousou me abandonar. O fluxo de ideias ia perdendo força pouco a pouco até, como uma corrente d' água que se esgota, o pingo ulterior. Não havia mais como pensá-lo ou fazer me regressar. Foi razoável parar por ali e esperar até o próximo e pontual ruído das chaves.