Já perdi a conta dos anos que frequento uma cafeteria perdida entre prédios antigos da Av. Marechal Floriano, no Centro do Rio. Antes, eu chegava ao caixa e ganhava uma fichinha de plástico colorida que me dava direito ao cafezinho. Agora, se modernizaram e a ficha de plástico foi abolida, logo quando tinha se tornado meu objeto de afeição. Todos os momentos que passo ali ficam registrados, sem risco de esquecimento, é minha ilha secreta na cidade, é onde o náufrago retorna ao isolamento. Acredito que todos nós mantemos esses lugares íntimos no meio da selva, refúgios pessoais, mosteiros em que nos enclausuramos. Posto-me no balcão, saboreio o néctar negro na pequena xícara de louça e esqueço do caos, esqueço dos homens e do mundo. Somos eu e o sabor do café, em comunhão com a vida, com aqueles sobrados atemporais, de onde sinto brotar uma inexplicável e inesperada alegria.