UMA PAISAGEM DE SÃO PAULO

Estou sentada num banco de jardim no bairro do Bom Retiro, na cidade de São Paulo.

Vou voltar a quarenta anos atrás, quando num banco escolar, a professora punha uma imagem sobre sua mesa e mandava-nos fazer uma descrição do que víamos.

Se eu fechar meu ângulo de visão, descreverei que ao meu lado esquerdo há uma mulher negra, com um gorro de crochê tipo “Bob Marley”. Ela tem um carrinho, desse que se carregam malas. Nele há o que talvez seja seu “lar”, uma sacola preta de zíper grande, um guarda-chuva grande e dois cobertores desse que se ganha em campanhas de agasalhos.

Nesse momento ela come uma refeição numa "quentinha" provavelmente fria.

Na minha frente, há uma alameda de paineiras que forma três ruas, e como estamos no inverno está sem flor.

A paisagem de transeunte é rapidamente, quase que instantaneamente mutável, mudam as pessoas na minha visão de uma maneira rápida, até as que estão sentadas nos bancos...

Exceção feita a mim e minha companheira do lado esquerdo.

Agora começou uma discussão entre quatro crianças, à minha frente por causa de um cachorro; uma delas maltrata o cachorro e as outras três convencem o quarto que isso é errado. Um deles diz para o algoz:- “Você não sabe que o cachorro é o melhor amigo do homem?”

Nesse momento entra uma nova personagem, uma outra mendiga que também tem seu carrinho e se veste como uma sobreposição de roupas coloridas, em defesa do pobre animal sarnento.

Um senhor com um saco cheio de pão velho alimenta os pombos da praça.

O menino que maltratava o cão fica só.

Bem, e agora o senhor dos pombos senta ao meu lado, e eu tenho nesse momento muitos pombos ao meu redor, fazendo o barulho característico dos pombos que eu... esqueci o nome...como é mesmo que se chama o barulho dos pombos?.Não lembro.

Olha! O menino que maltratava o cão descobriu que se fizer carinho nele, ele lhe devolve um olhar agradecido, uma barriga para cima pedindo mais carinho, acho que uma nova amizade está começando aqui antes meus olhos. Ah! O amor!

Há uma população flutuante aqui, há também uma fixa.

Uma nano comunidade, inserida numa macro comunidade que é a cidade de São Paulo.

Como sempre digo uma moeda sempre tem duas faces..

Nessa praça há a feiúra de vermos que há pessoas que vivem na rua, que não têm um teto sobre suas cabeças, ao fechar seus olhos todas as noites. Mas há a beleza que cada ser humano carrega consigo.

Cada um aqui tem uma história, cada um exerce o amor, dentro da sua capacidade.

Ser Humano! Uma linda criação do Universo!

Essa é a melhor imagem da minha paisagem!

Uma paisagem de São Paulo!

Mariacleia
Enviado por Mariacleia em 04/07/2007
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