O tempo passa

Um dia você acordará em busca de seu cotidiano entediante, esperançoso de que a vida continuará sendo a mesma, acreditando que uma vez imutável, sempre imutável. E ao colocar os pés para fora da cama em busca do chão, perceberá que ele sumiu e que hoje você flutuará e será feito de percepções. Afinal, esteve tanto tempo com a cabeça nas nuvens, que se esqueceu de buscar o chão, demorando a notar que estava sem o mesmo há muito tempo.

E quando as percepções aparecem, também surgem as decepções e de repente tudo muda. Você é bombardeado pela realidade, confusa, irrefutável. E prefere mil vezes voltar ao abstrato, onde cada perspectiva traz uma nova chance de otimizar as novidades cotidianas.

Mas a realidade é aquele beliscão que você tomava de seus pais quando fazia algo de errado, e dessa vez você errou por tentar viver de modo diferente, recebendo bronca por provocar sua felicidade. E então perde pessoas, aquelas que costumavam estar ao seu lado, aqueles inúteis "para sempre" sorrateiramente efêmeros e todos aqueles amores passageiros ridiculamente regados com previsibilidades.

E como o esperado, em um dia de percepções, você descobre que quando nota a falta de chão, nota também a presença de asas e de possibilidades. Porque quando o peso é tirado de seus pés, a magia acontece, ou melhor, a emancipação acontece. E ao emancipar-se, é descoberto um novo mundo, um mundo onde é possível se ver feliz.

Classicisa
Enviado por Classicisa em 26/01/2016
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