UM CARA CHAMADO "GORDO"
Hoje eu me faço saudosista e me vem à mente as figuras de alguns companheiros que eu cultivei na minha adolescência, na cidade do Açu, dentre eles, “gordo”.
“Gordo” era o apelido dado a Antonio Olimpio de Oliveira, rapaz de seus 15 a 16 anos, dentre nós, o que mais se destacava pelo seu porte e beleza física. Era um desses caras que a natureza privilegiara e dera, de graça, o que muitos cirurgiões cobram fortunas para tentar, pelo menos, deixar apresentável: o rosto. Verdade. Além de ter um corpo bonito, malhado pela vida dura do roçado onde capinava o mato, puxando cobra para os pés, a troco de uns míseros trocados, sem reclamar, “gordo” – que de gordo não tinha nada e seu apelido era pelo fato de que comia muito e não engordava de forma alguma – era o que nós comumente chamávamos de um homem bonito. Tinha um rosto alongado, de nariz afilado, olhos verdes, dentes perfeitos - apesar de nunca ter ido ao dentista cuidar deles - e cabelos loiros verdadeiros.
Porém, a maior das qualidades do “gordo” (ou defeito) era o de mentir para as mocinhas e pretensas futuras namoradas de uma forma tão verdadeira que era impossível não entrar na onde dele. Era um exímio “conversador” e tinha, dentro do seu parco vocabulário, uma destreza incomum em conseguir convencer as pessoas de coisas que ele não era, ou de fatos que nunca tinha acontecido. Detalhe importante: “gordo” era analfabeto de pai e mãe. Aliás, eu nunca soube bem essa parte da história dele. De onde tinha vindo, como chegou e onde era sua residência oficial. Acho que não tinha. Estava sempre onde o dono da terra lhe chamava. Ali ele trabalhava, ali ele comia, ali ele dormia. Era sempre assim.
Nós morávamos no sítio e só vínhamos para a cidade nos finais de semana, onde ficávamos na casa da minha inesquecível avó e sua irmã, que eram cuidadas por uma neta que havia sido criada por elas. Agora, na velhice, ela criava e cuidava das duas, numa retribuição que durou até a subida de ambas. E olha que demorou! Uma se foi com 94 anos e a outra com 92 anos. Pois bem, era nessa casinha que nós aportávamos todos os sábados para irmos as festas no Municipal. E conosco, o “gordo”.
Num desses finais de semana – importante, pois ia haver uma festa com um “conjunto de fora”, o que valorizava o evento, fazendo com que a gente trabalhasse o dobro apanhando manga no sitio (eram vendidas para grupos de baianos que vinham com seus caminhões catando sítio por sítio para revendê-las no “sul” do Brasil) – eu e meus irmãos (Wollas e Francisco), juntamente com o digníssimo amigo de aventuras, viemos do sítio para cidade, prontos para o encontro usual dos sábados. Como a festa era especial, especial era a nossa participação nela. Nossas irmãs cuidavam dos detalhes: unhas bem feitas, cabelos aparados, os dentes bem brancos devido o “trato” com rapa de juá, sapatos brilhantes e, claro, a roupa bem passada. Em termos de apresentação, éramos bem cuidados: nossas irmãs se dedicavam ao máximo para nos deixar apresentáveis e, conseqüentemente, para cada um de nós conseguirmos uma namorada, se o “gordo” arranjasse logo a dele. Se inventássemos de arranjar uma namorada antes dele, estávamos sujeitos a ficar sem ela, pois o “amigo da onça” investia todo seu charme em cima até conseguir, no mínimo, que ela nos desse um fora antes do intervalo da festa. Mas tudo tinha seu troco. E nessa festa “gordo” recebeu o dele.
Cansado de perder namorada para o “gordo” eu bolei um plano maligno. Cheguei para ele e disse que a filha do prefeito estava interessada em mim e que nós tínhamos combinados nos encontrar na festa. Pronto! Os olhos do “gordo” cresceram de inveja e sabedor do que era capaz com seu jeito envolvente foi logo dizendo: pois se eu quiser, eu a tomo de você! Disse isso e sorriu já antecipando a vitória. Eu pensei: caiu na armadilha.
À noite, quando nós chegamos à festa, ele foi perguntando onde estava à filha do prefeito e eu não me fiz de rogado, mostrei-lhe uma moça que estava sentada num recanto do salão. “Gordo”, depois de umas “olhadas” para ela e depois de perceber que tinha sido correspondido, apressou-se em se aproximar da mesa, pedir licença e sentar-se ao lado da jovem. E assim ele ficou a festa inteira – pensando estar namorando com a filha do prefeito, – quando na verdade ela era uma grande amiga minha que tinha uma queda pelo “gordo” e não sabia como namorar com ele, pois era uma moça sem expressão visual e o “gordo” tinha uma predileção por moças bonitas.
Nunca me esqueci disso. Onde você estiver, “gordo”, um abraço!
Hoje eu me faço saudosista e me vem à mente as figuras de alguns companheiros que eu cultivei na minha adolescência, na cidade do Açu, dentre eles, “gordo”.
“Gordo” era o apelido dado a Antonio Olimpio de Oliveira, rapaz de seus 15 a 16 anos, dentre nós, o que mais se destacava pelo seu porte e beleza física. Era um desses caras que a natureza privilegiara e dera, de graça, o que muitos cirurgiões cobram fortunas para tentar, pelo menos, deixar apresentável: o rosto. Verdade. Além de ter um corpo bonito, malhado pela vida dura do roçado onde capinava o mato, puxando cobra para os pés, a troco de uns míseros trocados, sem reclamar, “gordo” – que de gordo não tinha nada e seu apelido era pelo fato de que comia muito e não engordava de forma alguma – era o que nós comumente chamávamos de um homem bonito. Tinha um rosto alongado, de nariz afilado, olhos verdes, dentes perfeitos - apesar de nunca ter ido ao dentista cuidar deles - e cabelos loiros verdadeiros.
Porém, a maior das qualidades do “gordo” (ou defeito) era o de mentir para as mocinhas e pretensas futuras namoradas de uma forma tão verdadeira que era impossível não entrar na onde dele. Era um exímio “conversador” e tinha, dentro do seu parco vocabulário, uma destreza incomum em conseguir convencer as pessoas de coisas que ele não era, ou de fatos que nunca tinha acontecido. Detalhe importante: “gordo” era analfabeto de pai e mãe. Aliás, eu nunca soube bem essa parte da história dele. De onde tinha vindo, como chegou e onde era sua residência oficial. Acho que não tinha. Estava sempre onde o dono da terra lhe chamava. Ali ele trabalhava, ali ele comia, ali ele dormia. Era sempre assim.
Nós morávamos no sítio e só vínhamos para a cidade nos finais de semana, onde ficávamos na casa da minha inesquecível avó e sua irmã, que eram cuidadas por uma neta que havia sido criada por elas. Agora, na velhice, ela criava e cuidava das duas, numa retribuição que durou até a subida de ambas. E olha que demorou! Uma se foi com 94 anos e a outra com 92 anos. Pois bem, era nessa casinha que nós aportávamos todos os sábados para irmos as festas no Municipal. E conosco, o “gordo”.
Num desses finais de semana – importante, pois ia haver uma festa com um “conjunto de fora”, o que valorizava o evento, fazendo com que a gente trabalhasse o dobro apanhando manga no sitio (eram vendidas para grupos de baianos que vinham com seus caminhões catando sítio por sítio para revendê-las no “sul” do Brasil) – eu e meus irmãos (Wollas e Francisco), juntamente com o digníssimo amigo de aventuras, viemos do sítio para cidade, prontos para o encontro usual dos sábados. Como a festa era especial, especial era a nossa participação nela. Nossas irmãs cuidavam dos detalhes: unhas bem feitas, cabelos aparados, os dentes bem brancos devido o “trato” com rapa de juá, sapatos brilhantes e, claro, a roupa bem passada. Em termos de apresentação, éramos bem cuidados: nossas irmãs se dedicavam ao máximo para nos deixar apresentáveis e, conseqüentemente, para cada um de nós conseguirmos uma namorada, se o “gordo” arranjasse logo a dele. Se inventássemos de arranjar uma namorada antes dele, estávamos sujeitos a ficar sem ela, pois o “amigo da onça” investia todo seu charme em cima até conseguir, no mínimo, que ela nos desse um fora antes do intervalo da festa. Mas tudo tinha seu troco. E nessa festa “gordo” recebeu o dele.
Cansado de perder namorada para o “gordo” eu bolei um plano maligno. Cheguei para ele e disse que a filha do prefeito estava interessada em mim e que nós tínhamos combinados nos encontrar na festa. Pronto! Os olhos do “gordo” cresceram de inveja e sabedor do que era capaz com seu jeito envolvente foi logo dizendo: pois se eu quiser, eu a tomo de você! Disse isso e sorriu já antecipando a vitória. Eu pensei: caiu na armadilha.
À noite, quando nós chegamos à festa, ele foi perguntando onde estava à filha do prefeito e eu não me fiz de rogado, mostrei-lhe uma moça que estava sentada num recanto do salão. “Gordo”, depois de umas “olhadas” para ela e depois de perceber que tinha sido correspondido, apressou-se em se aproximar da mesa, pedir licença e sentar-se ao lado da jovem. E assim ele ficou a festa inteira – pensando estar namorando com a filha do prefeito, – quando na verdade ela era uma grande amiga minha que tinha uma queda pelo “gordo” e não sabia como namorar com ele, pois era uma moça sem expressão visual e o “gordo” tinha uma predileção por moças bonitas.
Nunca me esqueci disso. Onde você estiver, “gordo”, um abraço!
Obs. Imagem da internet
01/07/07.