Flores pra você

Ela andava pelo caminho do grande jardim em mais um de seus dias nublados e sem cor, quem sabe admirar as lindas flores não lhe desse algum prazer em ainda estar ali. Caminhava silenciosa e de cabeça baixa, olhando receosa para as flores, cada cor, cada aroma e formato das plantas lhe traziam uma lembrança diferente, algumas de amor, outras de ódio, mas todas eram lembranças e quase todas lhe agradavam de uma maneira tortuosa, pois de saudade já não aguentava.

Ah! Foi aquela amendoeira que despertou uma breve lembrança, de quando esteve diante ao teu futuro, quando nem imaginava do que seria daqui alguns meses. Conhecera alguém pouco diferente diante todos e tantos rostos, que apenas a olhavam com interesse, desejo ou então desprezo. Um dia normal, alguém normal, uma lembrança quase sem significado, se não fosse ao que procedeu... No caminho cinza, do outro lado do cercado imaginário, um doce amaranto fazia contraste em meio de tantas outras plantas, essa em especial lhe lembrou um domingo de chuva, sua vida tão fútil e sem sentido, sentia-se neste dia, como de costume, presa numa realidade que não era sua, claustrofóbica numa multidão de pessoas vazias, em meio à um monte de nada, sem sentimentos, sem felicidade, sem esperança, apenas solidão. Mas foi no fim do dia que aconteceu, um contraste inesperado iluminou seus olhos e aqueceu seu coração, numa chama apaixonante que só a cor daquela flor poderia traduzir. Seu coração bateu mais forte, seu sorriso brilhou, uma gota caiu de seus olhos enquanto voltava pra casa, contente como nunca, por alguém inesperado; perfeito. De repente, aquele seu domingo estava colorido e ensolarado, mas o caminho qual andava ainda era cinza e o céu permanecia nublado; Foi eterno por todo aquele instante que durou...

De quê adianta, pensava a pobre garota, ter tantas memórias, e tantos acontecimentos de afeto, amor, paixão... Se entregar por inteira, amar e ser amada, dar o melhor de si; do que adianta se não for com você? - Se lamentou e chorou como nunca, de tristeza, porque não podia se apaixonar por frágeis flores. Sua anémona morrera de tão seca, a flor de laranjeira ela já não encontrava, somente aquele cravo riscado... E que pena não poder mais sorrir; se não fosse pelas circunstâncias, eles sabiam, nada a teria feito desistir.

As flores são lembranças que só aquecem a memória de quem um dia aquecera seu coração, e era este quem ela queria e que tanto em vão espera, e apesar de muito desejar do fundo de seu coração magoado, ela sabia que nunca o teria... Que utopia!