No Silêncio do Alvorecer
Madrugada fria mais uma vez. Lá fora o silêncio reina, absoluto, mas sua mente permanece em caos e poluição sonora. Há tempos não sabe o que é adormecer, ao invés disso rola na cama tentando dissipar pensamentos que sabe serem passaportes para lembranças felizes que hoje só transmitem dor.
Fecha os olhos. Os beijos, alhures, tomam forma, sabor, textura e saudade, tem a definição daqueles lábios e a curvatura daquele sorriso matreiro, mas sempre esvaem-se como água em peneira. Uma lágrima cai, incontrolável e típica da ausência sentida, que agora veste-se e deita-se ao seu lado na cama.
Um pequeno ruído, quase inaudível, faz-se presente. A moça levanta-se num sobressalto, seu coração se alegra. Quem sabe não é aquele colibri que voltou para lhe dedicar o canto de despedida com que sempre sonhara? Ao debruçar-se ao parapeito da janela do quarto na penumbra suas esperanças escapam como um balão solto no ar. Não havia colibri algum ali. Apenas um vazio quase tão grande quanto o de sua alma.
Volta a deitar-se em seu leito frio, abraça-se a ausência já repousada. E ali adormeceu uma última vez.