Bonsai ou baobá?

Poderia ser chamado de látex?

Recomeçar, refazer, tornar sem efeito o malfeito, são tentativas de apagar nossos equívocos, para que não venham instruir os libelos que perseguem os “errantes".

Sentado à beira de um arbusto, com o olhar fixado na casca de diminuta árvore, notava uma resina que escorria, ziguezagueando, obedecendo apenas uma lei da física. De forma não espontânea, tomou a gotinha, com o indicador da mão direita, e passou a roçar a ponta daquele dedo, na ponta do polegar; uma gelatina se formava, lembrando uma borracha em estagio primário.

Instintivamente, pegou um lápis, e escreveu um dos seus incontáveis erros, numa folha de papel, apagando em seguida, com sua “borracha” de fabricação própria, e o erro desapareceu, não só do papel, mas , também, da memória; livrou-se, instantaneamente, daquela manchinha, que incomodava sua consciência.

Erros menores ensejam erros maiores; partindo para um universo maior, passou as apagar as grandes máculas que manchavam seu currículo: apagou frases, que não deveriam ter sido proferidas; apagou perdões, que não foram concedidos; vícios, que não foram controlados; agressões, que não foram reprimidas, e mãos, que não foram estendidas.

Viu, então, que sua genérica seringueira era menor do que aquilo que tinha de ser apagado; que suas borrachas eram insuficientes para esconder todos seus desvios. Notou que sua memória guardava, com detalhes, o que tentara, por toda sua vida, esquecer; que seu roteiro não havia passado por uma revisão.

Como desejou que aquele bonsai tivesse a altura de um baobá, mas, mais ainda, como desejou que todos os equívocos, atos danosos, negligências, cometidas durante toda sua existência tivessem apenas, e somadas, o tamanho de um bonsai

Roberto Chaim
Enviado por Roberto Chaim em 25/01/2016
Reeditado em 25/01/2016
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