UMA VIAGEM COMPLICADA
UMA VIAGEM COMPLICADA
Em 1990 eu estava participando das obras de expansão da Aracruz Celulose, em Aracruz, Espírito Santo. Às sextas feiras à tarde embarcava em um avião no aeroporto de Vitória, a bela capital capixaba, desembarcava em Cumbica. De Cumbica para Santos eu devia pegar um ônibus, o que nem sempre dava certo devido aos desencontros de horários. Não havia ainda a linha que liga os aeroportos de Cumbica e Congonhas, a opção era ir até a Rodoviária Tietê e dali ir de metrô até a Estação Jabaqüara e pegar o ônibus para Santos. Certa vez o avião atrasou muito e cheguei ao Tietê 23h30min. O metrô parava de funcionar à meia noite e não tinha como chegar até o Jabaqüara antes do último ônibus para Santos. A solução era apanhar o Expresso Luxo, que, descobri na hora, saia de meia em meia hora do Tietê. O último carro do dia, um Chevrolet Opala, sairía dalí a cinco minutos. Comprei a passagem eembarquei no carro no lugar ao lado do motorista, que ainda estava aguardando liberação para partir. No banco detrás estava outro passageiro e logo entabulamos uma conversa sobre coisas triviais (trivial é ótimo). O rapaz estava chegando do interior do Brasil e havia sido assaltado no dia anterior, ocasião que em que, sob mira de revolveres, entregara aos ladrões sua camionete top de linha, novíssima, cabine dupla e tudo mais. Ainda estava chocado com o que havia acontecido, pois estava com sua família na hora doa assalto e ia Santos para acertar documentos do carro roubado.
O motorista entra no carro, e parte. Pelo seu semblante e voz percebia-se que estava muito, mas muito mesmo, cansado, quase zonzo de sono. Eu e o outro passageiro trocamos um olhar de preocupação. No primeiro semáforo, que estava verde, o cara freiou violentamente, parando o carro no meio da avenida, o que provocou buzinas de todos os lados. Perguntei: “- O que aconteceu? O sinal está verde!”. A resposta; “-Ah, é mesmo!”, e colocou o carro em movimento. Mais a frente passou um semáforo que estava com luz vermelha, atravessando uma avenida super movimentada. Novo susto, com vários automóveis freando para evitar colisão. Ele parou na Praça da República na agência da empresa para apanhar um malote. Eu e o outro passageiro combinamos que eu dirigiria até Santos ou não continuaríamos a viagem. O motorista voltou, saíu com o carro e eu, gentilmente, conversei com êle, que informou estar trabalhando desde às três horas do dia anterior, e que nem sabia mais o que estava fazendo. Falei que eu iria guiar o veículo para ele dormir na viagem. Concordou na hora e trocamos de lugar, fazendo prometer que o acordaria para passar o pedágio. Tomei a Rodovia dos Imigrantes, o motorista ao meu lado dormia profundamente. Chegado ao pedágio parei um pouco antes. Ele atravessou e eu voltei a dirigir. Chegamos a Santos tranqüilamente e o acordei no local que era o meu destino. O motorista, já bem recuperado, voltou ao volante, com mil agradecimentos. A sensação de alívio que senti foi enorme.
Paulo Miorim