O Pinto Roxo
O pinto roxo não é um galináceo como aquele da abertura do programa Zorra Total, muito menos apêndice do homem nu naquele passeio de genitália mais tarde naquela pracinha daquele bairro daquela cidade. Nem tem qualquer grau de parentesco com o bilau subversivo do título de conto homônimo. Não existe parentesco entre eles nem por afinidade. Não é nem... isso; nem o que você pensou.
O pinto roxo é mais ausência, mais Macabéas baratinadas; menos deuses de paletó.
O pinto roxo pintou-se de cor alguma, mas nenhuma é sua cor; sua essência é e será eternamente roxa.
O pinto roxo visita o infortúnio todos os dias, as mazelas da expiação humana.
O pinto roxo foi, não indo, ao encontro das asperezas, das agruras da vida. Encontrou-as.
O pinto roxo agoniza dentro das vans do subúrbio e morre um pouco por dia, engordando as estatísticas oficiais.
O pinto roxo ganha carteira de identidade, bolsa – família, destaque da imprensa nacional na última enchente, mas acorda todos os dias com uma sede de anteontem.
O pinto roxo é pinto, mas antes é preconceito.