DA LUA E DOS AMORES

Sábado. A noite vem caindo, faz frio, 18 h. Chego para assistir ao casamento de um primo. Não um primo qualquer, mas aquele com quem sempre conversei mais, com o qual tive mais afinidades. Tudo bem arrumado e harmonioso. A cerimônia começa na hora e é rápida. Quando os noivos estão deixando a igreja, um pensamento me assalta! Pra que isso tudo?

E, ali mesmo, começo a fazer conjecturas. Parece-me que esse ritual todo acaba com a magia! E, tão rápido quanto iniciei as conjecturas, concluo que não sou mulher de vestidão de cauda, véu, grinalda... É bonito? É.

Mas penso em uniões amorosas de outro jeito. Devagar, conhecendo, descobrindo, me permitindo desvendar o outro e permitindo que tire meus véus.

Precisa tempo para aceitar que ele bagunça a gaveta dos talheres, esquece de guardar o leite na geladeira, diz que vai chegar às 7 h, mas só aparece às 8 h; deixa de comprar queijo para adquirir a última edição da Bravo!, prefere ir com um amigo ao futebol a te levar ao cinema, e ainda liga dizendo: “Amanhã a gente vai, gatinha! O filme é ótimo, acabei de ver com o fulano. Mas vou amanhã de novo, só pra te levar.” E a gente fica louca! Tem vontade de matar! Aí, se arruma e vai sozinha, com a maior raiva. Mas, ele tinha razão, o filme é ótimo. Então, sai do cinema, caminha um pouco, toma um café ou um chope, compra um botão de rosa e volta pra casa, sabe que ele só vai chegar mais tarde. Lê um pouco, ouve uma música, escreve um bilhete e deixa junto ao botão de rosa em cima do travesseiro dele. E entrega-se aos braços de Morfeu porque sabe que não há futebol no mundo que o emociona tanto quanto o recadinho deixado sobre o travesseiro. Mesmo que ele nunca diga isso. Vai te acordar com um cafuné, um pezinho passando nas tuas pernas e... pronto! Está dito. O que sucede na seqüência é uma embolação de “bom dia” de deixar qualquer criatura cheia de energia para enfrentar todas as paradas.

Ele também precisa de tempo. Tempo para saber que eu demoro mais que ele no banho, que investigo os preços e a data de validade dos produtos, que os meus pés gelam quando menstruo e aí fico pedindo massagem; ele precisa tempo pra entender que quando digo não estar bem, estou dizendo: “Quero colo, abraço, carinho... falar... pode me ouvir?”. Ele precisa se preparar lentamente pra perceber que estou usando um perfume mais forte, mal intencionado, uma calcinha nova; que fiquei furiosa, roída de ciúme com o elogio dado aquele mulherão de 1,80m, magrinha e que estava usando uma saia curtíssima; mais do que isso: entender que posso estar insegura, sim! E ele pode dizer: “Não troco a unha do teu dedinho do pé por mil dessas aí. É bonita, mas só vejo você!” Olha, precisa estar preparado! Posso ter uma reação inesperada do tipo puxá-lo para um canto escuro e dar o maior amasso. Ou simplesmente abraçá-lo e deixar correr uma lágrima silenciosa. Com o tempo também vai descobrir que o melhor remédio para os meus ataques de fúria, aqueles que me deixam igual a um tigre enjaulado, é me agarrar, abraçar forte e tascar um beijo na boca.

É assim que acredito em uniões amorosas. Devagar, com cuidado, tolerância, mas, sobretudo com uma boa dose de humor, muito, muito, muito carinho e respeito. Respeito por si, pelo outro e pelos outros, porque uma relação amorosa é, também, resultado dos laços que estabelecemos com o mundo que nos cerca e a forma como interagimos nele e com ele. Reconhecer nos outros seres humanos seres com o direito de ter oportunidades para a construção de uma vida melhor, é princípio básico para amar verdadeiramente.

Qualquer pessoa incapaz de se sensibilizar com injustiças ou parar de olhar para o próprio umbigo, é incapaz de sair do seu mundinho medíocre e fazer alguma coisa para a mudança do que aí está. Pessoas assim não amam de verdade, porque sempre vêem a si próprias em primeiro lugar. O/a outro/a é apenas alguém que está disponível.

Este é o meu jeito de pensar as relações de amor, entre dois seres, independentemente de orientação sexual. E isto nos deixa em estado de graça! A gente sabe quando alguém assim chega, não tem erro! É via de duas mãos, pois se for de mão única, não engrena, por mais que se tente.

Teria muito mais a dizer, mas encerro com a letra de Luna de Mayo, da minha amiga, compositora e cantora chilena, Magdalena Matthey:

LUNA DE MAYO

Me sobran ganas de estar contigo

Me sobra el tiempo si tú no estás

Me sobran besos, me sobra amor, amor

Me sobra vida para entregarte

Me sobra la noche si tú no estás

Me falta la luna que nos vio nacer

Y tú no estás

Y tú no estás

Y tú no estás

Luna, luna de mayo

Llévame a él

Luna, luna de mayo

Llévame a él

Llévame a él

Me sobran días esperándote

Me sobran historias para contar

Me sobran recuerdos, me sobra amor, amor

Y tú no estás...

Luna de mayo, llévame a él

Entre el cielo y el mar en sus brazos volar

Luna de mayo, calma la sed

En un sueño real yo lo quiero encontrar

Luna de mayo llévame a él.