Peba faz campanha
Luiz Carlos Pais
Natural de São Sebastião do Paraíso, MG, Geraldo Borges Campos (Peba) nasceu em 1911 e faleceu em 1967. Era barbeiro e líder trabalhista. Filho de João Borges Campos e de Isaura da Silva Campos. Casou-se com a “nossa” ilustre professora, acadêmica, escritora e jornalista Antonieta Símaro Campos. O casal foi agraciado o nascimento do filho José Francisco Calazans Morato Campos, renomado odontólogo e também escritor, residente em São Paulo. Com clareza, lembro-me do barbeiro que cortava os cabelos de minha infância. Sua barbearia estava sempre repleta de clientes. Muitos eram trabalhadores rurais, operários urbanos e pessoas simples. Aos sábados o movimento era bem maior do que os dias de semana porque os trabalhadores rurais vinham à cidade fazer compras e aproveitavam para cortar o cabelo e também se inteirar dos ocorridos políticos. Entre uma tesourada e outra, todos ficavam atentos às suas claras posições políticas em favor dos operários. Era eloquente, tinha raciocínio rápido e conhecida as leis trabalhistas. Estava sempre disposto a escrever cartas ao Juiz, pedindo justiça em favor de um de um trabalhador. Reportagem publicada na revista O Cruzeiro, em edição de 6 de dezembro de 1958, fez cobertura da campanha para prefeito municipal de São Sebastião do Paraíso, na qual concorria o nosso saudoso Peba, que, por várias vezes cortou meus cabelos, quando eu ainda era menino. Foi pioneiro do trabalhismo no município, pois sempre estava atento às possíveis injustiças cometidas por patrões que, nem sempre, queriam pagar o salário mínimo. Em 1956, o líder trabalhista paraisense mandou imprimir e distribuiu um boletim para esclarecer aos trabalhadores mais humildes o valor correto do salário mínimo instituído pelo presidente Juscelino Kubitschek. Foi preso e acusado de subversão por pretender esclarecer os trabalhadores. A seguir transcrevemos um extrato da reportagem publicada na revista O Cruzeiro, de circulação nacional, em edição de 6 de setembro de 1958:
“O mecânico Carlos Magrini teve um sonho. Sonhou que o vizinho Geraldo Borges havia deixado o salão de barbeiro para ser prefeito de São Sebastião do Paraíso, onde o sudoeste mineiro faz parede-meia com São Paulo. Ainda não era dia claro, correu para a casa do vizinho e lhe contou a história. Geraldinho gostava de política, mas sempre fora um pássaro de vôo baixo: nas últimas eleições, andou 72 quilômetros a pé, pedindo votos aos amigos e não chegou à Câmara Municipal. Vendo no sonho do companheiro um aviso do alto, resolveu candidatar-se à Prefeitura. Hoje, ninguém mais paga cabelo e barba e um tatu percorre as ruas do Paraíso como cabo eleitoral do homem que quer vestir a Prefeitura de macacão. Geraldinho é candidato dos roceiros. A legenda do PTB (Partido Trabalhista Brasileiro) ele apelidou de PT Borges. O estandarte é um tatu-peba, meio matreiro, que simboliza o trabalho. O tatu-peba faz sua toca, dá dura no batente, tem suas economias. É um pé-de-boi. Muito diferente do tatu-galinha, que é um gozador da vida, sempre esperando que o peba saia de casa para deitar na sua cama, comer a sua comida, viver a vida que pediu a Deus. Por isso, Geraldinho diz que tatu-galinha e UDN (União Democrática Nacional), que vive deitado na Prefeitura, há muitos ano. Com a ajuda do Deputado Sinval Siqueira, o tatu-peba quer retomar a casa modesta, que as mãos calosas dos mineiros do Paraíso construíram. Geraldinho faz campanha em verso: “Geraldinho na dianteira, acabou a buraqueira; Notícia do Anjo da Glória, PT Borges está com a vitória; O salário está pouquinho, vamos votar no Geraldinho.” Filho de sapateiro, Geraldinho espera pôr meia-sola na sua cidade. Como barbeiro, quer enfeitá-la um pouco.” [Fonte: O Cruzeiro, Rio de Janeiro, 6 de setembro de 1958]
Luiz Carlos Pais
Campo Grande, 22 de Janeiro de 1916