Sou empresário, um neoliberal convicto dos benefícios do capital aberto. Possuo nível superior, MBA em Gestão Financeira e moro no Leblon. Por representar uma grande corporação, me visto em ternos impecáveis, uso os melhores perfumes franceses, mantenho os cabelos alinhados e procuro falar baixo. Nada por luxo, mas por saber que a imagem é fundamental para os negócios. Eu seria um homem feliz se não fossem os meus pés, um par de comunistas desgraçados que entregaram os sapatos de couro italiano para uma ONG de auxílio aos desabrigados e agora andam desavergonhadamente nus por todos os caminhos. Ditadores imperdoáveis que me obrigam a acompanhá-los. Os dois encardidos sambam felizes em banhos de mangueira, jogam pelada nos campos de várzea e dançam pagode na Pedra do Sal. Cheiram à cachaça para o santo, que escorre nômade pelas calçadas fedidas a mijo. Subversivos!