Sim, Aninha, a sinhaninha…
Rompido o laço matrimonial depois de setenta anos, com a partida do companheiro Luiz, mamãe olha as coisas à sua volta e, vez por outra um pio de saudade solta, mas não se revolta. A Singer, de pedal, continua ali ao seu alcance, esperando algum retalho pra manga ou capanga.
Quando pintar um pouco mais de ânimo, e uma necessidade filial de emergência duma cerzida, ou duma bainha nas calças, ela recobra a presteza e destreza dos bons tempos que, não precisam mais ser corridos como outrora. Afinal, a aposentadoria da fábrica já faz quarenta anos, o fogão a lenha é só pro desassossego dos meninos e o aquecedor solar garante banho quente a qualquer hora...
Minha proximidade da Singer não passou da curiosidade de tenra infância sobre a movimentação do pedal, os caminhos tortuosos da linha ou de ver tanto papai como mamãe operá-la na maciota, como se estivessem mascando chicletes, e até fazendo bolota.
E a sinhaninha? Embora coisa da qual menino não se aproxima - à exceção do Hélio do Pico, chefe da estação ferroviária, que chegava até a passear na plataforma da estação com as roupas de sua maman -
eu me enchi de curiosidade pela sinhaninha, branquinha, desde seu nome até cada uma de sua interminável ondulaçãozinha.
Hoje, mostra-me o google uma profusão delas, padrões, cores e larguras, mas o desenho original mantém-se inalterado. Como antes, nas mãos frágeis, mas ágeis, de mamãe.