SOBRE HONESTIDADE E HONRA.

De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto. Rui Barbosa

Todos conhecem essa reflexão do jurisfilósofo da Primeira República. Quem é honesto nunca deixará de sê-lo, nem precisará afirmar que o é. Ou se é ou não, honesto. E muito menos disso poderá ter vergonha.

Nenhuma ousadia tenho, em afirmar que Rui usa metáfora que pode ser interpretada equivocadamente. Nada de propositivo. Seria absurdo o honesto ter vergonha de assim se conduzir.

O honesto não precisa afirmar que é honesto por um simples motivo, sua honestidade nunca será posta em dúvida. Ao contrário, será enaltecida. E muito menos ninguém deve se envergonhar pela vergonha dos outros, por atos de terceiros cometidos.

Por quê? Por nunca estar em dúvida sua conduta. Não se verá nunca ser posta em dúvida a honra do honesto. Só se defendem por questões inerentes à honestidade aqueles que têm a honestidade posta em dúvida. Tem sido assim em processos dessa natureza no judiciário. Se tenho a honra atacada, vou aos tribunais. A honra do honrado, se atacada, luta com denodo e vigor para ver defendido esse ornato inigualável de sua personalidade.

Não a quer sob anátema, honra enegrecida de suspeita, “varrida para debaixo do tapete”, como popularmente se nomina, a caminhar nas veredas sombrias onde nada se apura. Sob ataque, nunca deixará de acionar os tribunais, nem mesmo pela mais mínima ofensa, sem o que admite a imputação.

A honra do honrado quer ser como a verdade solar, como o sol que não quer sombras para rebrilhar em toda sua plenitude.

A honra do honrado repele a tortura da consciência e o sufrágio da benesse que oculta, do favor que desmerece, da doação do obséquio que pede troco, a retribuição que achaca e tem péssimo odor.

Para o honrado, a ficar na ausência de mostrar e provar sua honra, opta por combater o combate do bem, onde só a verdade lhe fornece as armas do combate, e nunca dele se avizinhará os horrores da consciência torturada.

Os honrados são escravos da lei e da verdade para serem livres, sem cadeias a algemarem suas consciências, de cabeças erguidas não para enfrentarem ou subjugarem detratores, antes e muito mais para satisfazerem seus princípios.

São assim os honrados, pois a condescendência com o vício de esconder gera a inutilidade, a desrazão da lei, o sepultamento das normas.

Caminhar em sentido contrário revela a bondade desprezível dos que transigem escondendo culpas, dos que cedem para não terem necessidade de exigir, dos que dão a fim de que nada lhes peçam, dos que tudo externam por se divorciarem de suas obrigações.

Da mesma forma que de nada vale a vida, que seria nosso primeiro bem, sem liberdade, para o honrado nada vale viver sem defender efetivamente sua honra, sem deixar qualquer traço de ofensa sem acionamento dos tribunais.

Ninguém se envergonhará pela vergonha da desonestidade dos outros, como na inserção da reflexão de Rui.

A desonestidade é terrível, que o diga a história. Ninguém escapa de suas manchas. Preciso não só ser honesto, necessito parecer honesto. Por quê? Não há compatibilidade entre os dois conceitos?

Comparar padrões de honestidade raia pelo imponderável. É cifrado esse valor, e de forma máxima. Se é ou não honesto. Se somos honestos esta será nossa imagem. Sim, não há uma gradação em ser honesto ou não em gênero. Não há honestidade em gênero, ninguém mais ou menos honesto que eu, é valor pessoal como a honra e a ela ligado. Não deve ser comparada.

Que sejamos movidos a mudar conceitos sem que nunca necessitemos de apregoar nossa honestidade ou fazer comparações com ela, pois se assim ocorrer existirá resíduo, nódoa que mancha, ou ainda ter vergonha da desonestidade dos outros.

É como no delito de calúnia, se formalizada, mesmo retratada oportunamente no procedimento próprio, permanecerá. É como dizia Beaumarchais, literato francês, caluniai, caluniai, caluniai, alguma coisa sempre fica.

Celso Panza
Enviado por Celso Panza em 21/01/2016
Reeditado em 21/01/2016
Código do texto: T5518406
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