Normalistas formados em 1920

Luiz Carlos Pais

A importância da história registrada neste artigo vai muito além das anotações coletadas para homenagear mestres da terra natal. Um dos gestos para escrever a história consiste em vasculhar, separar e interrogar documentos para tentar retornar ao passado. Todo esse esforço é feito com o propósito de entender também os desafios da atualidade. Mesmo assim, persiste o desafio de preencher lacunas que não foram esclarecidas com as fontes acessadas. Mas, essa sensação de incompletude não deve inibir o desejo de registrar a história dos mestres que conduziram os primeiros passos da infância escolar.

Este artigo destaca eventos da história da educação de São Sebastião do Paraíso, tal como foi a festa de colação de grau da turma de professores formados da Escola Normal do Ginásio Paraisense, em 1920. Entre os formandos estava o professor Benedito Ferreira Calafiori, de quem fui aluno no Colégio Comercial São Sebastião, em 1971. Também tenho a honra de ter sido aluno do seu filho, o historiador e brilhante intelectual paraisense, Luiz Ferreira Calafiori, no Ginásio Industrial Estadual “Clóvis Salgado”. São educadores cujas trajetórias pertencem às minhas referências de formação e ajudaram a despertar minha consciência para ser professor.

Comecei a me interessar por este episódio da história local, quando localizei no jornal paulistano “O Combate”, edição de 20 de dezembro de 1920, uma reportagem escrita por um cronista local, detalhando informações que pretendo aqui compartilhar com meus conterrâneos. Retornemos ao tempo para esboçar alguns traços do cenário mais amplo do país, quando os eventos locais marcaram a história da terra natal.

O presidente da República, Epitácio Pessoa, enfrentava uma série de rebeliões nos quartéis do Rio de Janeiro. Prenunciava as mudanças culturais ditadas pela semana de Arte Moderna. Arthur Bernardes, presidente de Minas, comandava a ala mais conservadora da política mineira. Mas, os paraisenses reservaram aquela noite para festejar, com alegria, esse momento histórico da Escola Normal, quando a instituição ainda pertencia ao município de São Sebastião do Paraíso, após ter sido adquirida do seu fundador, padre Aristóteles Aristodemus Benatti. Nos meados da década de 1920, o curso foi transferido para a congregação das Irmãs de Santa Doroteia.

Retornemos à solenidade que iniciou às 21 horas, no salão nobre no prédio térreo que o município havia recém construído. O cronista relata que a festa foi encantadora. O salão estava todo iluminado e enfeitado pelos formandos para receber autoridades, familiares, amigos e visitantes das cidades vizinhas. A congregação constituída pelos professores, diretor e inspetor de ensino estava reunida formalmente. Foi formado um semicírculo em torno da mesa sobre a qual estavam os diplomas e um belo arranjo de flores, que os formandos tinham colhido nos campos do entorno do Ginásio.

A solenidade foi presidida pelo promotor de justiça, José Mariano Pinto Monteiro Filho. Várias autoridades prestigiaram a festa e tomaram assento na primeira fila do auditório. O promotor que presidiu a solenidade registrou em seu discurso que estava representando o Secretário de Interior do Estado de Minas. O advogado e professor Paulo Roberto Duarte, inspetor escolar e juiz municipal de Uberabinha, foi escolhido para paraninfar a turma. Ao proferir seu discurso sobre o “ofício do educador”, destacou as brilhantes perspectivas dos formandos. Suas palavras foram aclamadas por uma salva de palmas.

O orador dos formandos foi o jovem Waldemar Calafiori. Seu nome entraria para a história local como cidadão engajado em projetos culturais e como professor da Escola de Farmácia e Odontologia. Instituição fundada em 1929 e dirigida por Lamartine Amaral e Raymundo Calafiori. Após o discurso do jovem orador, o promotor procedeu à chamada dos formandos, os quais receberam seus diplomas e foram saudados com ruidosas palmas. Em seguida, teve início a parte mais descontraída da festa. Um baile que se prolongou até as quatro horas da manhã, com muita alegria, petiscos e refrescos e alguns licores.

A direção do Ginásio Paraisense era exercida pelo professor Georges Aloysios Nixon, que fez questão de cumprimentar cada um dos formandos e seus familiares. Estava na direção do estabelecimento deste janeiro de 1914. Natural dos Estados Unidos, o professor Nixon tinha exercido o magistério em Passos, mas fora convidado para dirigir a Escola Normal. Permaneceu ele na direção até 1922, quando assumiu o professor Tabajara Pedroso.

Após sua estada em Paraíso, o professor Nixon foi para Bebedouro, SP. Em 1944, era diretor do Ginásio Estadual de Barretos, SP. Para finalizar este registro, se faz necessário proceder a uma segunda “chamada” dos mestres formados naquele distante e próximo dia da nossa terra: Adalgisa Bueno. Almerita Pimenta. Alzira Corrêa. Alzira Ghiraldini. Balbina Paoliello. Juvenilha Simões Vieira. Leonidia Vasconcellos. Maria de Castro. Maria Sílvia de Paiva. Maria Carvalhaes. Olyntha Portella. Antônio Lopes. Benedicto Ferreira Calafiori. José Antônio Soares. Waldemar Calafiori. Todos têm seus nomes inseridos na história da educação de nossas raízes.

Luiz Carlos Pais

Campo Grande, 21 de Janeiro de 2016

luiz.pais@ufms.br