Iluminação Elétrica de Paraíso
Luiz Carlos Pais
Nos idos de 1910, dois anos antes da criação do Grupo Escolar Campos do Amaral, os moradores de São Sebastião do Paraíso, no sudoeste mineiro, vivenciaram um momento marcante em termos do progresso local que foi chegada da iluminação elétrica das ruas centrais da cidade. O município estava se tornando um importante polo da cafeicultura da região e as condições dos cofres públicos tinham melhorado um pouco. Os velhos lampiões a querosene passaram a ser objetos “do século passado”. Um jornal da época noticiou que as ruas centrais pareciam estar mais alegres, ao anoitecer, e que as pessoas estavam mais estimuladas a aproveitar a gostosa brisa noturna para dar voltas no entorno do Largo da Matriz.
O retorno a 1910 pelos caminhos da história permite destacar o quanto foi importante para os paraisenses esse evento pontual da iluminação pública, que certamente clareou também, além das ruas e praças, um pouco mais as coisas do espírito e da cultura. Uma novidade singular e plural porque o mesmo progresso estava acontecendo em outras cidades do país, mostrando que a história se faz na estreita interface de episódios locais e globais. O fato foi noticiado num jornal mineiro: “A bela e florescente cidade de São Sebastião do Paraíso, no sul de Minas, vai ser brevemente iluminada à luz elétrica”. [O Pharol, Juiz de Fora, 24 de Agosto de 1910]
Quando nem mesmo havia, com muita clareza, o atual conceito de concorrência pública, o progresso no município cafeeiro do sudoeste mineiro se tornou possível graças ao “privilégio” obtido pelo empresário Joaquim Mário de Souza Meirelles e outros. O privilégio, termo usado na época, obtido pelo empresário e formalizado por um contrato assinado com a prefeitura municipal, permitia a exploração do serviço de produção e distribuição de energia elétrica, por um longo período. Em troca do privilégio recebido, a empresa fornecia alguns serviços ao município, como a iluminação de praças, ruas e prédios públicos. Posteriormente, o referido empresário participou da fundação da grande indústria de cimento amianto Itaú da região, bem como foi fundador de um dos maiores bancos do país, cujo nome do grupo financeiro é o mesmo da empresa produtora de cimento. Relações que entrelaçam as condições de uma época centenária, e as regras políticas “pouco republicanas e absolutistas da República Velha. Paradoxo necessário para expressar a realidade vista do nosso território paraisense do início do século XX.
Nessa época foi constituída a empresa Siqueira Meirelles Junqueira e Companhia que construiu a primeira usina hidroelétrica da região, na localidade então denominada Usina Santana, em 1911, próximo à atual cidade de Itaú de Minas. A referida empresa ficou conhecida como “Força e Luz” e acompanhou, por mais de meio século, o desenvolvimento de São Sebastião do Paraíso e de outras cidades da região, como Passos, São Tomás de Aquino, Capetinga, Jacuí, Cássia e Pratápolis, Itamogi, Monte Santo, entre outras. Aos poucos, a vida sertaneja da região foi se modernizando. Começou a época de aposentar as lamparinas, entretanto, sem jogá-las no lixo. Uma boa dose de cautela mineira fazia com que as mesmas ficassem guardadas para iluminar as noites em que o fornecimento de energia elétrica era interrompido.
Com o advento das luzes elétricas também expandiram, um pouco mais, as luzes dos saberes escolares, sobretudo, em termos dos primeiros sinais de expansão da educação pública para as classes populares. Em 1912, o governo estadual assinou o decreto de criação do primeiro Grupo Escolar, cuja denominação prestou justa homenagem ao deputado José Luiz Campos do Amaral Junior. Este benemérito da educação paraisense era bisavô da nossa querida professora Dirce Pedroso Brigagão de Alcântara, ex-diretoria do referido Grupo. Em 1889, poucos meses antes da Proclamação da República, Campos do Amaral auxiliou, juntamente com outros paraisenses, a instalação do Gabinete de Leitura “Valentim Magalhães”, sob a balizada liderança moral e abolicionista do cônego Thomaz de Affonseca e Silva, quarto pároco da Igreja Matriz local. Este gabinete foi, possivelmente, a primeira biblioteca da cidade, que permitia acesso público ao acervo constituído por cerca de 400 livros e alguns periódicos. Tema este de grande relevância cultural para ser historiado em outro momento de difusão das luzes em São Sebastião do Paraíso.
Luiz Carlos Pais
Campo Grande, MS, 21 de Janeiro de 2016
luiz.pais@ufms.br