ATÉ QUE A VIDA OS SEPARE
Nunca casei na igreja e não tenho participado de nenhum casamento, por isso não sei se ainda existe aquela pergunta:
-Promete ser fiel, amar e respeitar até que a morte os separe?
Se existe, ouso dizer que ela é totalmente errada. O certo seria perguntar:
-Promete ser fiel, amar e respeitar até que a vida os separe?
Houve um tempo em que os casais ficavam juntos por toda vida, aceitando os defeitos e limitações do(a) parceiro(a). Conheço um casal da minha cidade que recentemente completou bodas de vinho, setenta anos de vida em comum. Admiro e respeito, por que pertencem a um tempo em que nem se pensava em divórcio. Criaram filhos, viram nascer os netos, bisnetos e continuam ativos, apesar dos noventa e tantos anos que carregam nas costas. Só vão se afastar quando um deles partir e, mesmo assim, continuarão fiéis à lembrança de quem foi antes.
Ainda há exceções, mas infelizmente hoje os relacionamentos parecem vir com prazo de validade.
Não estou criticando ninguém, nem apontando um culpado ou culpada. Para haver briga, tem que ter pelo menos duas pessoas envolvidas, como diria meu pai. Culpa talvez desses tempos modernos, da velocidade com que as coisas e pessoas são descartadas e trocadas por algo mais eficiente. Fidelidade parece irrelevante, a ideia é aproveitar tudo, absorver tudo, como se o mundo fosse acabar daqui a meia hora. Sem falar, é claro, que relacionamentos desgastam. São duas pessoas de personalidades diferentes que muitas vezes não se adaptam, você pode viver ao lado de uma pessoa por trocentos anos e ainda assim não conhecê-la totalmente. Quando os dois não se entendem, quando as brigas são frequentes, quando um domina e o outro apenas segue, o melhor é se afastar. Não existe mais a obrigação de permanecer ao lado de alguém quando o amor acabou e a convivência tornou-se um fardo: divórcio, separação, deixaram de ser tabus. É a vida. E nem sempre ela é bonita é bonita é bonita, como Gonzaguinha cantava.
Por isso, insisto no termo “até que a vida os separe.” Morte é só uma etapa, mas não levamos bagagem, quando reencarnamos, voltamos virgens de lembranças e sentimentos.
Viver juntos, casados ou não, é um pouquinho mais complicado, principalmente nos dias de hoje. São dois seres humanos (bichinho complicado pra danar), dois gênios que se atritam. Tudo isso somado à efemeridade dos sentimentos e a velocidade frenética do nosso tempo, resulta num emaranhado de espinhos que vem disfarçado sob o pomposo nome de Vida Moderna. E às vezes ela pode ser bem cruel.