Cadê minha mala? E outras resenhas do mestrado

Pense num mestrado magnifico! Aconteceram coisas muito curiosas, interessantes até. Tivemos nossos maus e bons momentos. Descemos ao inferno e subimos ao céu. Mas nada comparável às trapalhadas de nossa maravilhosa amiga... Teofilândia. Não escrevi errado. Este é mesmo nome da moça. Para os íntimos simplesmente ...Teo. Teo, a mãezona, que arruma a vida de todo mundo, dá conselhos, estoura, fala o que tem que falar e.....Dane-se.

Numa de nossas viagens ela resolveu levar filho, sobrinho e a nora. Arrumou as malas. Na hora de pô-las no carro ...Bem.

Na rodoviária, empolgadas como sempre, afinal mais uma viagem a Salvador. Que maravilha! Todo mundo sem dinheiro, vendendo o almoço para comprar o jantar, pedindo emprestado sem data para pagar. Sem lugar para hospedar. Dinheiro para hotel? Imagine!

Para piorar a situação,vez por outra, Luzineide apresentava algumas crises do tipo reclamação, mais tarde reclamação e por último reclamação... "Estou cansada", "meu corpo e mente pedem sossego". Ah, gente, estou ficando velha pra essas coisas”. Renata, por sua vez, avisava calmamente.

___Luineide, cala a boca ou te jogo pela janela. Diante de uma promessa assim tão gentil, era melhor parar de resmungar.

No dia da mala, Luzineide estava muito, muito quietinha. Dor de ouvido. Chegou primeiro na rodoviária, enquanto que Renata, Ednólia e Teo estavam atrasadas, ou melhor em cima da hora. O ônibus já estava lá com o motorista conferindo documentos. Luzineide via a fila acabando, as unhas sangrando, o coração acelerando. Como sempre ligou,ligou, ligou e ouviu Teo esbravejando:

___Luzineide só tá ligando. Eta, meu Deus. Estamos chegando, Luzineide.

Chegaram . Todos de frente ao porta-malas do carro para ajudar com as malas.

____Meu Deus, cadê minha mala? A cara de Teo não era deste mundo.

___O que? Você esqueceu a mala? Os olhos de Renata era só riso.

___Esqueci, Luzineide. Coloquei as malas de todos na sala e esqueci a minha o quarto.

__Êta e agora?

Alguém deu a solução:

__ Aderlan vai amanhã . Liga para ele.

__Não. Liga para Carla avisando das peripécias de Teo. Assim ela ligará para Aderlan em Aguada Nova. Este por sua vez leverá as malas a Salvador e problema resolvido.

Agora imagine: a mala ficou em Lapão. Carla, a irmã de Teo, mora em um povoado chamado Rodagem. Aderlan mora em Aguada Nova. Carla receberia o telefonema, iria a Lapão, pegaria a mala e levaria para Aderlan que a deixaria em Salvador. UFA...

E assim até chegar ao ônibus foi uma metralhadora verbal de liga pra ...

Tudo resolvido. Teofilândia resmungando. Luzineide reclamando de dor. Renata se acabando de rir. Ednólia ajudando Renata. O filho de Teo, o sobrinho e a nora não sabiam se riam ou ...riam. Assim tudo ia bem. Quando o ônibus já estava em movimento, quase chegando a João Dourado, outro grito.

__Cadê meu travesseiro? Eu esqueci o travesseiro na cadeira da rodoviária. Hoje não é meu dia. Coitadinha de Teo. No dia seguinte, todos na aula... De repente...

__Gente, cadê o meu caderno? Esqueci meu caderno. Adivinha quem é a dona da fala?? Teofilândia.

Mas só para rir um pouco mais de nossas trapalhadas verbais acompanhe alguns comentários expressos ao vento durante a aventura nossa de cada dia durante os dois anos de mestrado. Ria e seja feliz. Já passou. Glória Deus! Foi muito bom enquanto durou. Na memória versos soltos, ditos no ônibus, dentro do táxi, nas salas da faculdade, nos apartamentos, nos intervalos das aulas, depois das orientações e qualificações.

__A miséria desse táxi não anda não? Êta motorista desgraçado, este aí da frente. Não ultrapassa. Não concede passagem.

__Vixe! Eu nunca ouvi você xingando.

___Tá ouvindo agora.

___Pára de tagarelar. O que deu em você?

__O transito está lento e essas passarelas, viadutos estão me dando arrepio. Converso para esquecer a fobia.

___Fobia de que?

___De carros perto dos outros... assim, parados ,em cima dos viadutos, passarelas, parece que vão cair em cima da gente. Este táxi tá apertado demais. Eu quero sair daqui.

____Sai... Vai andando até a rodoviária, doida.

____Até ao shopping.

___Eu não vou atravessar aquela passarela. Tenho medo de altura.

___Vamos tirar este medo.

___Estou com medo.

___Não olhe para os lados.

____Meu bumbum está dormente de tanto medo.

___Olhe para a nuca de quem está na frente.

__Leia os letreiros.

___Ai graças a Deus. Eu não venho mais por este caminho.

___Vem, sim. Até acabar o medo estamos juntas.

...

____Gente, será se fiz a conta errada. O dinheiro acabou.

___Gente! Eu dei 100,00 ao motorista pensando que era 2,00.

___Agora eu preocupei.

____Eu já estou para mandar alguém fazer algo do tipo...

____Cala boca. Engole. Você é educadora.

_____Nestas horas eu queria ser uma pessoa "normal" para falar um monte de palavrões. É tão bom, desabafa, faz bem, alonga vida. Olha o quanto Dercy Gonçalves durou.

___Pode soltar o palavrão. Te damos permissão.

____Eu quero minha mãe.

...

___A aula de hoje foi boa?

___Não sei direito. Cheguei à faculdade com diarreia. Passei o tempo todo na companhia do vaso do banheiro.

____Que viagem horrorosa! Sentei perto de dois velhinhos que falavam em assalto a ônibus durante toda a viagem. Cada caso. Não termino este mestrado. Estou com medo.

___Que novidade. Você tem medo da própria sombra.

...

___Quer dizer então que somos abóboras??

___E que algumas serão jogadas para fora da carroça.

___Por mim. Tô me sentindo fora da carroça, da roça, do terreiro, sem enxada, capinadeira, seja lá do que for.

___Eu já li tanto que minhas retinas estão trocadas.

___E eu?? Li tanto que na noite passada sonhei e acordei com meu marido gritando: O que você anda fazendo em Salvador? Quem é esse tal de Gadamer? Quem é esse tal de Stuart Hall? E quem é esse tal de Paulo Freire?. Pois é... Educação é um hospício, as faculdades são os manicômios e nós somos os loucos.

___Gente, pára de fazer perguntas durante as aulas... Cada pergunta é um livro para ler.

___Será quantas vezes a professora leu o livro " O Fim da Modernidade?

___Ela disse que leu quatro vezes.

___Misericórdia.

___Eu estava pensando em pedir a Deus a dádiva de mais dois olhos, assim daria tempo para ler tudo que foi indicado quantas vezes for preciso.

____Aproveita e pede mais duas mãos e mais um cérebro.

____Quando terminar o mestrado, eu vou soltar fogos. Eu quero ouvir o estrondo.É uma necessidade orgânica.Cada foguete é uma dificuldade superada.

____Decidi que eu não quero nem saber de doutorado.

___Será quem inventou esse negócio de mestrado?

____O problema não é quem inventou e sim quem aceitou.

___E então? Como foi a qualificação??

____Nunca mais serei a mesma depois da qualificação. Estou em frangalhos. Na verdade desde então o estômago não pára de doer.

___Minha pressão subiu.

____A nossa qualificação foi maravilhosa.

___Não vamos mudar quase nada.

___A minha também. Recebi até os parabéns.

___Nosso único problema foi a formatação.

___Os doutores adoraram nosso projeto. Tem tudo para ser o melhor.

___Amiga, é melhor a gente ficar quieta. Todos se deram bem. Estamos fritas, assadas, cozidas, torradas e mal passadas.

____Calma, colega! No final tudo vai dar certo.

____Não disse pra você. Conseguimos.

___Depois de terminado o mestrado, estou pensando seriamente em procurar um consertador de cabeça. Apertar os parafusos. Tem algo solto aqui dentro.

____Deve ser seu cérebro com sérias dificuldades em entender "Tudo pode, mas nem tudo pode."

...

Tudo passou. A nossa força de vontade superou todas as dificuldades. Depois que terminou o mestrado, todos aprovados, muita comemoração e a certeza: “Que venha o doutorado.” De preferência na companhia de Teo para esquecer as malas outra vez, de Renata para dar ordens de forma muito carinhosa do tipo ” me poupe, viu, Luzineide” de Ednólia para falar de Deus e dos outros para rirmos e sofrermos juntos.

Amém!