E DEPOIS?
A vida, ressurgir a cada dia, vida frutuosa, sem fronteiras de pátrias ou nações, que chega, sem nada pedir, doada, a desatar nós enigmáticos para muitos, porém, por vezes simplistas, lavados na régua da justiça, pródiga em dar amplitude quando penetrada e dimensionada na suprema vontade da igualdade, o mais puro e o mais belo, direito do certo e errado, humanismo antológico absorvido e explicado em latitude e longitude. Não acinzentam horizontes na humanidade alcançada.
Compreender sem obstáculos o caridoso, o sopro da vida e o vale de lágrimas. Conforto da alma, benefício de pensar, ser e estar vivo.
E DEPOIS?
O velho contraponto. Há “o depois de muitos”, várias pegadas de muitos caminhos, poucas soluções.
A aflição de um Deus indemonstrável e a promessa de outra vida, alguns acreditados em retorno indefinido, com permanente haver/dever, calcados em parâmetros desconhecidos, ditos conhecidos por êxtase psicológico.
Deus, nem existência ou inexistência provadas, diga-o o grande cérebro de Kant, não superado em sua "Critica Da Razão Pura", e nada da criação da vida provou-se, o que coloca em desespero a ciência atrás da mínima partícula. Tudo em vão, pois pouco se percebe também, da criatura nascida do criacionismo que é fruto da literatura humana, do homem, e atravessa portais imaginados exclusivamente pela fé. Deus não planejou nada, só a fé planeja sua excelsa entidade, O PRIMEIRO MOVIMENTO, sem o qual nada existiria. Nisso reside a ciência, no movimento.
Ninguém pode ir além dos limites impostos pela inteligência, na esteira da razão exercida, que tem barreiras severas. Nos fenômenos da vida, cuja própria origem é desconhecida como causa digressiva, no primeiro movimento. Por outra angularidade, transcendência, muitos se debatem e não possibilitam a plena oxigenação explicativa da eterna interrogação “para onde vamos?”. Fica-se na fé, finca-se na fé, aporta-se na fé.
Racionalidades explicativas passam ao largo da credibilidade. Ninguém pode estabelecer o que ninguém trouxe em materialização formal, resta o infantilismo das razões. Escora-se na ausência da simples dicção, no hiato da evidência em lógica, que preside a certeza. É necessário que a crença se cerque da fé, e nela permaneça.
E DEPOIS?
Voltaire pontificava sem possibilidade de contradição, basta olhar a humanidade e sua disfunção, sic: “Alma chamamos ao que anima. É tudo o que dela sabemos: a inteligência humana tem limites. Três quartos do gênero humano não vão além, nem se preocupam com o ser pensante. O outro quarto indaga. Ninguém obteve nem obterá resposta.”
Khalil Gibran compreendeu bem essa incompreensão como situou em sua obra, compreendeu que era a esfera, o todo, e não só um fragmento trêmulo aprisionado nas barreiras da inteligência sem poder dar um passo e tropeçar em suas convicções que se sedimentavam. Foi a luz nascida de uma indagação quando um homem lhe perguntou:
“Quem és tu?”
Vale dizer: E DEPOIS?
Quando se desprende o espirito do corpo material em sua jornada terrena e alça voos que só a ele é dado fazer, "subindo a montanha e desnudando-se ao sol", como asseverou, qual conforto de quem fica e ama quem se foi?
Quando alguém viaja e fica longe sabemos que lá está, poderemos ir até ele ou ele voltar até nós. Há esse conforto de estabelecer, de novo, presença.
E só quem partiu na viagem definitiva, sem volta, saberá o que encontrará.
Creio, fortemente, e assim reporta a caminhada humana, lacrada do desconhecimento sob esse prisma, que essa viagem é vedada ao alcance de nossas possibilidades explicativas no invólucro corporal.
Quem milita contra o óbvio espanca a lógica, denominador comum de todas as questões, diga-se, dos pretórios onde a prova preside a razão.
A fé e só ela, dos assim acreditados, não enfrenta a lógica, nem poderia, somente enlaça a vontade nas ondas da busca legítima de subjetividades aprisionadas e ausentes da sincronia com o mundo das provas. Voa simplesmente para a subjetividade com asas largas.
Quem trabalha com prova assim conhece. Não podemos fazer prova negativa, mas propositiva-positiva.
Esse “ganhar outros espaços” ditados por tantos credos, se compreende por só ao elemento vivo da natureza, o homem, ser permitido pensar, ter inteligência que distingue, apartado do instinto.
Somos imensamente pequenos, além do átomo e do fóton. Todos somos, todos são, quando se trata de transcender. São Tomás, pelos sentidos, leia-se, pela manifestação no mundo vivo, tece a razão do Primeiro Movimento. É a máxima razão que podemos encontrar, ao menos eu encontrei assim, as cinco vias.
Se fosse fácil compreender, o mundo não faria do “Depois”, parâmetro de tudo, em tudo. Basta olhar a história do Poder temporal e religioso, mesmo contemporaneamente, e constatar.