TENHO AINDA ALGUNS EXEMPLARES...


Daquelas varandas repletas de latas de azeite,de leite Ninho,algumas jarras ou caldeirões,carcomidos pelo uso.
Dentro? As mais delicadas avencas, japonesas, beijinhos ,palmas de São Jorge e guinés.Estes últimos,atados com pequenos laços vermelhos para combater o mau olhado.
Num dos cantos,uma surrada cadeira de palha,um tapetinho de retalhos e um gato sonolento esparramado sobre a cerquinha protetora.
De quando em quando uma lufada mais abrupta de vento, destes ventos marotos,empurra a porta da sala. Então,um quadro emoldurado na parede estampa os donos da casa em suas poses de domingo e o cheiro morno do quintal incensa os aposentos.
Algumas falas mansas vão acetinando o silêncio emparedado e ,com boa audição, ainda é possível captar algumas conversas que dizem de canteiros, de chuvas, de remédios caseiros, de pães e broas de milho.
Ah! E por falar em remédios caseiros...Alecrins e capim limão perfilam-se pelas laterais a caminho do celeiro.Neste, o cheiro do tempo está impregnado entre picumãs e poeira.
Uma ninhada de canários sob a primeira goiva da cumeeira e galinhas chocando entre espigas e palhas de milho.
Cones de feno seco erguem-se entre as macieiras e uma cantiga dolente rasga as cercanias numa pressuposta solidão de galo.
Uma carroça recobra as forças,descansando sob o pé de butiá.
De resto,apenas o ruído choco dos cincerros,o machado ferindo bracatingas e o bando de pombos ziguezagueando sob céus; ora pastosos,ora infinitamente azuis.
Tenho guardados com muito carinho,alguns exemplares destas varandas que surgem como visão primeira de casas e quintais ,por onde os relógios emperravam suas engrenagens e o tempo e as horas escorriam extremamente alongados.
Não os vendo,nem me desfaço de maneira alguma.No entanto,não sou egoísta.Posso emprestá-los à quem demonstrar algum interesse.

                       Joel Gomes Teixeira