CASAMENTO DE EX-ALUNOS
Depois de vinte anos de magistério, lecionando ou “dando aulas” como se fala por aí, tenho uma lista imensa de ex-alunos.
Muitos não me deixam assim tantas saudades, sobretudo aqueles que não foram compreensivos comigo no início de carreira. Então me pergunto: por onde andam meus ex-alunos?
De vez em quando, na saída da missa, dou uma olhada na folha dos proclamas afixada no final da Igreja. Ocasionalmente me deparo com o nome de algum ex-aluno e me espanto.
Professor, ás vezes, é igual pai ou mãe. A gente pensa que o aluno será sempre aluno, que aquele seu aluno de quatorze anos vai sempre ter quatorze anos. Que eles nunca crescerão, terão que enfrentar o batente em busca do pão e não vão constituir família, ser talvez até mais responsável que um mero professor com pretensões literárias.
Certo dia, chegando em casa, encontro sobre um móvel da copa, um convite de casamento. Adenaldo e Verônica.
Perguntei para a esposa quem teria deixado aquele convite.
_Um rapaz magro com uma pinta do lado direito do rosto.
Repassei mentalmente meu arquivo de rostos conhecidos e nada. Fiz essa operação mental algumas vezes e nada. Definitivamente eu não sabia quem era Adenaldo ou quem era Verônica, sobretudo, com aqueles sobrenomes.
Aproveitei para fazer um bota-fora no meu cômodo de despejo no sábado em que eu não tinha nada para fazer. Minto, eu tinha que fazer um bota-fora no cômodo de despejo. Há sete anos que eu fico marcando de fazer isso e não faço.
Comecei a jogar uns trabalhos de ex-aluno fora. Aqueles de fim de ano que a gente não devolve. Curioso, olhei a data. Dez anos atrás. Minha turma do noturno de dez anos atrás. No meio desses trabalhos, tinha um tal Adenaldo. Agora sim, lembrei-me do nubente, o rapaz magro e tímido que sentava no lado direito da sala, perto da janela. Sempre cansado do trabalho. Produzia pouco em termos estudantis, mas provocava uma certa dó no coração da gente.
Então é esse. Para ter certeza conferi o nome completo do trabalho com o do convite. Bateu. E não é que o próximo trabalho a ser jogado fora é o da Verônica? O nome também conferia. Lembrei-me de Verônica. Moça fogosa. Atrapalhava muito a aula. Em nada se parecia com Adenaldo. Mas como diz a lei da física, os opostos se atraem.
Deixei o bota-fora pela metade e fui me arrumar para ir à igreja desejar aos meus ex-alunos, uma feliz convivência, pelo menos igual a que eu tenho com minhas esposa tão diferente de mim, que por ser organizada, não passa sete anos sem fazer um bota-fora. Afinal, os opostos se atraem.
DA SÉRIE: AD-JUNTOS, AD-VERBAS, AD-NOMES.
Muitos não me deixam assim tantas saudades, sobretudo aqueles que não foram compreensivos comigo no início de carreira. Então me pergunto: por onde andam meus ex-alunos?
De vez em quando, na saída da missa, dou uma olhada na folha dos proclamas afixada no final da Igreja. Ocasionalmente me deparo com o nome de algum ex-aluno e me espanto.
Professor, ás vezes, é igual pai ou mãe. A gente pensa que o aluno será sempre aluno, que aquele seu aluno de quatorze anos vai sempre ter quatorze anos. Que eles nunca crescerão, terão que enfrentar o batente em busca do pão e não vão constituir família, ser talvez até mais responsável que um mero professor com pretensões literárias.
Certo dia, chegando em casa, encontro sobre um móvel da copa, um convite de casamento. Adenaldo e Verônica.
Perguntei para a esposa quem teria deixado aquele convite.
_Um rapaz magro com uma pinta do lado direito do rosto.
Repassei mentalmente meu arquivo de rostos conhecidos e nada. Fiz essa operação mental algumas vezes e nada. Definitivamente eu não sabia quem era Adenaldo ou quem era Verônica, sobretudo, com aqueles sobrenomes.
Aproveitei para fazer um bota-fora no meu cômodo de despejo no sábado em que eu não tinha nada para fazer. Minto, eu tinha que fazer um bota-fora no cômodo de despejo. Há sete anos que eu fico marcando de fazer isso e não faço.
Comecei a jogar uns trabalhos de ex-aluno fora. Aqueles de fim de ano que a gente não devolve. Curioso, olhei a data. Dez anos atrás. Minha turma do noturno de dez anos atrás. No meio desses trabalhos, tinha um tal Adenaldo. Agora sim, lembrei-me do nubente, o rapaz magro e tímido que sentava no lado direito da sala, perto da janela. Sempre cansado do trabalho. Produzia pouco em termos estudantis, mas provocava uma certa dó no coração da gente.
Então é esse. Para ter certeza conferi o nome completo do trabalho com o do convite. Bateu. E não é que o próximo trabalho a ser jogado fora é o da Verônica? O nome também conferia. Lembrei-me de Verônica. Moça fogosa. Atrapalhava muito a aula. Em nada se parecia com Adenaldo. Mas como diz a lei da física, os opostos se atraem.
Deixei o bota-fora pela metade e fui me arrumar para ir à igreja desejar aos meus ex-alunos, uma feliz convivência, pelo menos igual a que eu tenho com minhas esposa tão diferente de mim, que por ser organizada, não passa sete anos sem fazer um bota-fora. Afinal, os opostos se atraem.
DA SÉRIE: AD-JUNTOS, AD-VERBAS, AD-NOMES.