O peso de não poder...
Mesmo a pessoa mais confiante e resolvida do mundo um dia se sentirá impotente. A menos que você consiga passar pela vida sem tecer nenhum tipo de afeto ou sem construir relacionamentos, vez ou outra você vacilará.
Como no dia em que aquele amor ficará doente e você acompanhará ao seu sofrimento oferecendo-lhe todas as alternativas disponíveis, mas a dor persistente lhe será como um soco no estômago e cada lágrima escorrendo de sua face lhe fará encolher mais e mais...
E você pode ser médico, enfermeiro, rezadeira, não importa, um dia a dor alheia irá lhe desmontar.
Como quando o seu filhinho precisa daquela injeção e chora em seu colo olhando incrédulo pra você com os olhos que dizem: - "Porque está fazendo isso comigo?"
E o herói será desmascarado.
Ou quando sua esposa está gemendo de dores e aperta-lhe a mão como que buscando algum alívio e você sabe que só pode corar de vergonha e fica atônito como uma criança que perdeu-se da mãe.
Há dias em que a dor não é com você, mas não há gratidão nenhuma por isso. Na verdade você seria muito mais grato se ela fosse sua, se você pudesse partilhar um pouco que fosse.
Se você pudesse arrancar a dor, tomar para si. Se você pudesse apenas abrir a cabeça dele e elucidar as coisas para que ele não tomasse as decisões erradas, ou apenas tomasse outro caminho...
Ah, se você pudesse ter outras vidas e dar uma a cada um de seus amados e viver em volta deles como um anjo e lhes guardar, lhe proteger.
Mas você não pode. Só lhe cabe a própria porção de sentir. O sofrimento, tal qual a vida é um ato solitário. Mas eu não entendo isso, eu continuo aqui nesse corredor ao lado de teu leito, esperando os analgésicos fazerem efeito, fazendo orações porque deve haver alguém além daqui que possa diante dessa impotência e que lhe ame tanto como eu.