A turista de três corações!
Desacostumada as ciladas do humor, Martinha na sua terceira juventude, resolveu gastar a economia feita em dezenas de anos felicidade nas fazendas de café no município de Três Corações, em uma viagem de turismo pela Bahia. Logo ela que sempre diz que “baiano é irreverente, meio sarcástico”, além de afirmar que o tal povo tem sete vidas. Um baiano soube disto e perguntou: “Quem tem sete vidas é gato, será que Martinha quis dizer que todos baianos são gatos?”. A depender da ótica, chamar alguém de gato é elogio!
E lá ia a turista tricordiana pelas ruas de Salvador apreciando os monumentos, o conjunto arquitetônico do Pelourinho, as baianas do Acarajé e os camelôs de cartão telefônico. Tudo uma maravilha. Conversava com um e com outro, Tirou foto com as “Baianas do Paraguai”, que ficam na Praça da Sé vestida a caráter, e que cobram de dez reais para posarem em foto de turistas brasileiros, e ‘ten dollars’ para os turistas gringos. Dizia com orgulho que era de Três Corações, afinal se a Bahia tem Zumbi, a cidade de Martinha tem Pelé!
A cada lugar visitado, um trocado deixado! Afinal solidária com as boas causas não podia de deixar de retribuir financeiramente a hospitalidade e a gentileza do povo da “Terra de Todos os Nós”, slogan do novo governo carioca da Bahia. E ele que não retribuísse, e veria mais hospitalidade ainda: “Vá pra casa do cara...”, isto para não chamá-la de racista: “Pó não contribui com negritude do nosso povo”. Uma das características da hospitalidade dos “meninos de rua de Salvador”, é voluntariamente carregar as bolsas dos turistas; bolsas, mochilas, maquinas fotográficas, celulares, carteira de dinheiro e etc., Carregam tudo!
Chamava a atenção dos baianos o ‘boton” que Martinha ostentava, em que se lia a frase: “Sou de Três Corações”, peça desenhada por alguém de bom gosto, e que muito chamava a atenção. Foi então que visitando a secular obra do metrô baiano (começou no século passado e neste ainda não acabou), que Martinha viu um homem de “sete vidas” e necessitando de um transplante, ter um “piripá cardiológico”. No povo que se juntou, havia um senhor branco de olhos azuis e cabelos e bigode brancos, que apontado para a turista disse à equipe da ambulância: “Leva ela também, ela é de três corações, e que custa doar um!”.
Martinha procurou a ladeira fácil de descer e sumiu daquele trecho, ouvindo gritos de “pega ela, pega ela ...’ Em vida de turista tudo é surpresa, mas se o fato “transplantativo” tivesse sido consumado, apenas teria feito valer a frase: “Quem vem a Bahia deixa o seu coração!”.
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Tem gente que vive no exagero,
tendo tudo em grandes porções,
e o que digo sempre confirmo,
conheço uma de três corações!
(Homenagem a recantista tricordiana Marta Maria de Resende Barreto)