CRÔNICA DE UMA CIDADE DO INTERIOR
CRÔNICA DE UMA CIDADE DO INTERIOR
A cidade do interior que tem um time de futebol participando do campeonato estadual, é passaporte certo para a alegria ou tristeza, conforme for o caso.
Tudo começa meses antes de o campeonato começar. O burburinho que vai tomando conta da cidade é incrível. Só se fala naquilo.
- Você viu rapaz que jogador o nosso time contratou?
- Aquele que anda dormindo em campo?
- Mas ele é bom. Quando acorda é sensacional!
- Só que quando ele acorda... O jogo já terminou!
A dúvida é se vai ter time para enfrentar ao times da capital. Quanto aos outros, todos se nivelam. O fato é que a cidade toda se transforma e veste a camisa do time.
Técnico, preparador físico, massagista, médico, nutricionista e jogadores são contratados, deixando todo com aquele otimismo lá em cima, mas o time tem que fazer sua parte.
- Este time que estamos formando é para disputar o título do campeonato. Não vai ter prá ninguém todo entusiasmado. Eu prometo.. (não promete não que não é bem assim).
- O senhor não está exagerando. Prefeito? – pergunta o secretário de esportes.
- Vira essa boca prá lá, ave de mau agouro!
E o dia tão esperado se aproxima. Uma semana antes já começa a venda de ingressos, antecipados mais baratos e mulher não paga. Pelo jeito vai dar uma bela renda.
A conversa começa logo no início da semana.
- O que você me diz? Temos chances?
- Vamos ver. Foram contratados dez jogadores para mesclar com os que ficaram. Todos. É muito jogador para pouco espaço. Sei não.
- O técnico é o conhecido “Barriga”. Como o nome já diz empurra com a mesma.
- E os jogadores?
- O mais conhecido é o “Soneca”, o centroavante “matador”.
- Aquele que acorda quando o jogo acaba?
- Mas tem também o “ Zaroio”, Cabecinha, Fofoca e mais seis que vieram para compor o time.
- Mas o prefeito está animado. Deu uma verba mensal para incentivar o time.
- Tirando do nosso, é claro!
Enfim chega o dia tão esperado. Alegria minha gente!
A alegria começa já na entrada do estádio, com os policiais fazendo a revista de praxe.
- Tira a mão!!!! – diz um torcedor.
A casa está cheia e o povo animado. Quando sai a escalação, silêncio total.
- Não sei não – sussurra outro torcedor.
Mas quando o jogo começa, a animação volta outra vez. Começam os xingamentos para o juiz, incluindo aquela santa, que não tem nada comisso, que ficou em casa.
O jogo, neste começo está equilibrado, mas o tim não chega no ataque. O time da capital marca e pressiona.
Passou meia hora, o goleiro do time da casa sai jogando em casa e o atacante adversário recupera a bola e faz 1X0.
- Não disse pra você?
- Calma, tem o segundo tempo. Vai entrar o “ Soneca”.
- Ai, essa machucou o meu calo.
O que começou com grande incentivo, transformou-se em um grande coro de vaias, pois o da casa tomou mais dois gols: 3X0 para o visitante.
- Cadê o Soneca?
O tal acordou agora.
- Já acabou o jogo? Justo quando estava esquentando!
O tempo foi passando e nada do timer reagir. O prefeito, desesperado, não tinha nem como olhar para a torcida.
- Burro! Burro!Burro!!! – gritavam os torcedores para o técnico “Barriga”.
Final do campeonato: time rebaixado para a segunda divisão,. Do mesmo jeito que subiu ganhando o quadrangular de acesso, volta para o mesmo lugar de onde viera.
O prefeito “sumiu” por uns dias, para não enfrentar a gozação dos torcedores.
Por coincidência, este ano temos time disputando o campeonato estadual.
Espero que as coisas sejam bem diferente.