Alumbramento

Há momentos que nos marcam para sempre. São os que ficam gravados nas nossas mentes e corações. Alguns deles são os alumbramentos da infância,como tão bem bem Bandeira definiu no seu poema "Evocação do Recife": "Capiberibe/ Vapibaribe/ Lá longe o sertãozinho de Caxangá/ Banheiros de palha/ Um dia eu vi uma moça nuinha no banho/ Fiquei parado o coração batendo/ Ela se riu/ Foi o meu primeiro alumbramento".

Para nós, meninos do interior, matutinhos, quais foram os nossos primeiros alumbramentos? Na certa as primeiras namoradinhascom quem bricamos, quem sabe, de médico. Ou as primeiras descobertas do corpo. Ou os primeiros dias no colégio grandão, diferente da escolinha acanhada.

Mas houve, para todos nós matutinhos do interior, um alumbramento que nos marcou mesmo para sempre: foi sem dúvida a primeira vez que vimos o mar. O maior açude do mundo. Descortinar a imensidão do Oceano Atlântico, em Boa Viagem ou Olinda, foi a surpresa das surpresas, a constatação que além do céu havia algo que também era infinito. Essa primeira vez - como a primeira transa - era tema para conversas para um ano todo. Era algo que deixava o perigo da série bem pixototinho. Era mais fascinante que as incipientes paqueras. Um amigo meu de infância, ainda mais mayuto do que eu, se é que pode, quando viu o mar pela primeira vez exclamou perdendo o fôlego: "Eita açudão danado de grande!".

No meu caso particular foi algo que me comoveu e quase chorei, deu aquele friozinho na barriga, temi na base. Pensem, pasmem, que3 estava vendo uma visão,uma visagem como dizíamos naquele tempo. Pendo que beleza igual só presenciei quando vi a Cachoeira de Paulo Afonso. Na verdade,hermanos, muito da minha fe em Deusde corre da constação das belezas da naturezae dos fenômenos físicos, das chuvas, noite e dia e etc e coisa e tal. E evidentemente também da inteligência do homem, pena que uma parte seja dirigida para o mal.

Nunca me esqueci da primeira vez que vi o mar. Foi omeu primeiro alumbramento. Que saudade do passado. Inté.