O Lixo do Fim da Tarde
É Vésper anunciando outro turno de atividades – ou ociosidades. Agora os banhistas recolhiam seus pertences, os ambulantes somavam lucros do dia e os barraqueiros recolhiam barracas e cadeiras.
Juntavam a cada metro o lixo do dia: cocos abertos, espigas vazias de milho, palitos de picolé, guardanapos amarrotados, sacolas de papel, garrafas com restos disto e daquilo.
Da calçada acima a visão era panorâmica e via todo espetáculo – e seus horrores – do palco da areia: cenas do teatro litoral urbano de um país tropical.
Nos montes de detritos as pombas disputavam migalhas com os pardais. As gaivotas espantavam estes. E os cães punham para voar todas as aves antecedendo seus donos: mendigos catadores – os cachorros sempre fiéis aos humanos até em suas misérias.
Eram homens, rapazes e meninos. Arrastavam sacos onde acumulavam o que podia reciclar e ganhar trocados: latas de cerveja, refrigerantes, garrafas de plástico. Antes dos recipientes serem lançados no saco eram sorvidos de todo resto ou gotas que matassem a sede dos miseráveis e que haviam sido desprezados pelos beberrões.
Papéis e sacolas eram revirados, desamarrotados, verificados: procuravam migalhas de pão, peixe, frituras, guloseimas que, mesmo babujadas pelos glutões que fartos desprezaram, servia para matar a fome dos marginalizados sociais. Eles levavam à boca com toda pressa. Tinham que coletar, vasculhar e engolir outros montes que se faziam por quilômetros.
Os cães interrogavam olhares de piedade para as figuras humanas maltrapilhas:
Poderiam seus donos também ser canídeos em forma de homens? Ou seriam ratos e baratas que galgaram humanidade? Sobrariam para eles, os cães, migalhas das migalhas já devoradas por homens, pardais, pombos e gaivotas?
Tinham pressa.
Já se via o caminhão de lixo com seus garis recolhendo os entulhos – o que sobrara do lixo remexido dos montes refeitos.
Mais atrás vinham carros com arados revolver a areia. Os sulcos feitos eram caprichosamente alisados pelo vento que depois estratificavam os grãos conforme a cor, textura e espessura ondulando camadas.
Qual a ventania estratifica as camadas sociais?
A luz da lua somou-se à luz dos postes que clareava de modo completamente alvo toda a praia, como holofotes. Chegavam cada vez mais outros atores.
A praia tornou-se praça esportiva:
Alguns jogavam bola, outros pulavam em “jamps”, outros levantavam halteres... a preocupação era a forma definida do corpo para no dia seguinte expô-lo ao banho de sol e enchê-lo com mais comida até o ponto de empanzinamento.
Por que há a concentração de riqueza?
Dicotomia do bicho homem!
É Vésper anunciando outro turno de atividades – ou ociosidades. Agora os banhistas recolhiam seus pertences, os ambulantes somavam lucros do dia e os barraqueiros recolhiam barracas e cadeiras.
Juntavam a cada metro o lixo do dia: cocos abertos, espigas vazias de milho, palitos de picolé, guardanapos amarrotados, sacolas de papel, garrafas com restos disto e daquilo.
Da calçada acima a visão era panorâmica e via todo espetáculo – e seus horrores – do palco da areia: cenas do teatro litoral urbano de um país tropical.
Nos montes de detritos as pombas disputavam migalhas com os pardais. As gaivotas espantavam estes. E os cães punham para voar todas as aves antecedendo seus donos: mendigos catadores – os cachorros sempre fiéis aos humanos até em suas misérias.
Eram homens, rapazes e meninos. Arrastavam sacos onde acumulavam o que podia reciclar e ganhar trocados: latas de cerveja, refrigerantes, garrafas de plástico. Antes dos recipientes serem lançados no saco eram sorvidos de todo resto ou gotas que matassem a sede dos miseráveis e que haviam sido desprezados pelos beberrões.
Papéis e sacolas eram revirados, desamarrotados, verificados: procuravam migalhas de pão, peixe, frituras, guloseimas que, mesmo babujadas pelos glutões que fartos desprezaram, servia para matar a fome dos marginalizados sociais. Eles levavam à boca com toda pressa. Tinham que coletar, vasculhar e engolir outros montes que se faziam por quilômetros.
Os cães interrogavam olhares de piedade para as figuras humanas maltrapilhas:
Poderiam seus donos também ser canídeos em forma de homens? Ou seriam ratos e baratas que galgaram humanidade? Sobrariam para eles, os cães, migalhas das migalhas já devoradas por homens, pardais, pombos e gaivotas?
Tinham pressa.
Já se via o caminhão de lixo com seus garis recolhendo os entulhos – o que sobrara do lixo remexido dos montes refeitos.
Mais atrás vinham carros com arados revolver a areia. Os sulcos feitos eram caprichosamente alisados pelo vento que depois estratificavam os grãos conforme a cor, textura e espessura ondulando camadas.
Qual a ventania estratifica as camadas sociais?
A luz da lua somou-se à luz dos postes que clareava de modo completamente alvo toda a praia, como holofotes. Chegavam cada vez mais outros atores.
A praia tornou-se praça esportiva:
Alguns jogavam bola, outros pulavam em “jamps”, outros levantavam halteres... a preocupação era a forma definida do corpo para no dia seguinte expô-lo ao banho de sol e enchê-lo com mais comida até o ponto de empanzinamento.
Por que há a concentração de riqueza?
Dicotomia do bicho homem!
O Bicho - Manuel Bandeira
“Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem.”
“Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem.”
_ POETAR_
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Leonardo Lisbôa,
Barbacena, 28/12/2015.