A CRÔNICA DO CORPO SEM ALMA
O corpo está deitado no leito dum hospital.
Passa horas completas sem se mexer.
Respira por meio de aparelhagem.
O precioso oxigênio o mantem ainda vivo.
Mas o corpo permanece inanimado.
Onde estará a alma do corpo?
Ele é de um homem idoso.
Sei que viveu uma vida inteira pela frente.
Agora deitado no leito fica ali completamente parado.
Não emite som algum em sua boca fechada.
As horas a seguir vão minguando com o corpo morrendo.
Onde está o folego que lhe concedia a vida?
Onde será que encontra-se a alma que movia o corpo?
Estará ela viva no céu?
Ou se estiver morta encontra-se no inferno?
Vou dizer de minha própria experiência.
No céu a alma não está.
No inferno é que não foi.
Digo isso porque já estive em coma.
Não vi o céu e nem tampouco fui para o inferno.
Penso que estive na mansão dos mortos.
Tudo lá é completa escuridão.
Não ouvi o som da música.
Nem existia o canto da alegria.
Céu, terra, mar e ar...
Não existia nada onde eu estava.
Apenas sei que tudo era silêncio e escuridão.
Vamos voltar agora ao corpo no leito do hospital.
Passaram-se meses que está deitado.
Onde encontram-se seus filhos ou parentes?
Ninguém chega para vê-lo em nenhum momento.
Eu o contemplo no leito inerte.
As vezes troco-lhe as roupas suadas.
O olhar tem as orbitas paradas e vidradas.
Não há brilho nas córneas que parecem sem vida.
Do corpo parado exala um mau cheiro.
Nem o banho de leito ajudou...
Isso é o que acontece a alguém morrendo.
Pouco a pouco ainda eu esteja respirando
o corpo deitado segue apodrecendo.
É a primeira vez que vejo um corpo decompondo
fora do lugar habitual dentro do caixão.
Onde estará a alma que lhe concedia a vida?
Por quê será é mantido respirando por aparelhos?
Não encontro qualquer explicação.
De repente, entra no quarto uma pessoa.
Pela semelhança do rosto percebo que é parente.
_Este senhor na cama deitado é meu pai...
Fala comigo o jovem chorando.
_ Ele está assim inerte faz mais de um ano...
Repentinamente o corpo ganha cor.
Do nada o corpo se levanta após surgir a vida.
Chorando ainda o filho abraça seu pai e o beija.
Pede alegre que lhe tirem todos os aparelhos.
Vejo aquele homem idoso agora sorrindo.
Foi-se embora o cheiro da morte nauseante.
Filho e pai abraçados vão embora agora para casa
e alegres porque no corpo fora por Deus concedido vida.
Eles partem e eu fico ali limpando a cama.
"ESCREVI ESTA CRÔNICA ONTEM ÁS 20:30 HORAS,
FUI TERMINAR 21:30 HORAS".
( J C L I S )