Pequenas histórias 123
No fio da madrugada
No fio da madrugada, pensativo, tendo o reflexo dos passos na calçada, embalado pela agitação cultural, ele andava num rumo incerto.
Equilibrava-se nos sentimentos fracos enregelando a espinha em pequenos fluir de emoções.
Enigmática a noite adentrava em seus poros lancetando a criatividade.
Olhou o brilho das luzes nas folhas das árvores.
Chegou à conclusão de que não tinha mais nada a dizer.
No entanto seus passos o conduziam a lugares desnorteados.
Seguia a única maneira em que via nisso a sua redenção poética.
Seguia, em frente, ouvindo o cadenciado dos pés na concreta calçada.
Seguia, cruzando com transeuntes descompromissadas sem o notar.
Seguia, agitando os nervos em direções inimagináveis como ponta de lança furando o ar.
Seguia, seguia, calmamente engendrando aventuras nunca realizadas.
No fio da madrugada seguia mesmo cansado da frivolidade egoísta deturpando o amor, ele seguia.
Precisava colher da madrugada cada complexo segmento da individualidade exalando desejos nunca correspondidos.
Captar na palma da mão a frenética substância existente em todas as coisas, em todas as pessoas, em todas as direções como alimento.
E depois repousar como se nada tivesse acontecido.
pastorelli